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Foto do escritorÍtalo Matos Gomide

A Técnica de Subtexto

Atualizado: 30 de jun. de 2023

Artigo escrito por Joslyn Chase e traduzido por Barão d'Altaleitura

A Voz das Profundezas: 7 Técnicas Simples para Turbinar as Suas Cenas

 

Como escritores, trabalhamos dia a dia para aperfeiçoar os nossos textos até a melhor versão que podemos alcançar. Nesse sentido, uma das mais avançadas técnicas que te ajudarão a conquistar a satisfação de olhar para seu texto e falar "Ai, que delícia!" é construir o significado nas entrelinhas do seu texto — ato também conhecido como subtexto.

Em uma história, o subtexto pode estar inserido entre as ações e diálogos superficiais.

É só você pensar nos livros e narrativas que mais gostou de ler, há uma boa chance de que as cenas da história tenham sido tecidas com algo mais profundo, além do que uma rápida leitura desavisada é capaz de enxergar.

Hoje eu gostaria de te ensinar sete técnicas simples para você já sair tecendo um subtexto invejável à sua história (com exemplos, claro). Sentindo-se pronto? Então vamos lá!

O que é o Subtexto?

 

Como um quebra-cabeças, os subtextos botam a lata velha que o leitor chama de cérebro para trabalhar, plantando as pistas necessárias para se chegar à verdade emocional da cena. Essa ferramenta faz a história mais engajante e memorável ao leitor pelo fato de que a verdade não está nas palavras, mas sim no nó crucial entre palavras e ações (poético, não é?).

Algumas vezes, o discurso direto serve bem ao seu propósito, mas há outras situações em que você poderia escrever de um jeito bem mais impactante se mantivesse um certo “segredo” no diálogo. Na verdade, é assim que um diálogo real, na vida real, costuma se desenrolar.

Isso pode ser difícil, porque significa confiar nas habilidades de seu leitor para catar das entrelinhas essas as pistas significativas, mas se trata de um passo importante para turbinar o texto.

Quando eu deveria usar o Subtexto?

 

Há dois tipos específicos de situações que são perfeitamente bem-situadas para o subtexto. Eles são:

  • 1. Quando o personagem tem muito a perder ao ser direto

Quando emoções intensas — feito o amor, ódio, raiva e desejo — estão envolvidas, quase sempre nos cagamos ao pensar em expressar abertamente. É muito arriscado, e não desejamos nos machucar. Então, nós nos protegemos sob o manto das entrelinhas.

E é exatamente isso que seu personagem também faria, afinal, são, como nós, seres humanos (ou humanizados). Então, basta aplicar o subtexto nessa cena.

  • 2. Quando você quer que o leitor seja um participante ativo na cena, sempre experienciando os eventos

Devido a tal quebra-cabeças, uma cena dotada de subtextos envolve o cérebro do leitor e o presenteia com uma experiência de leitura profunda e ativa, encorajando-o a reunir e interpretar as pistas além das palavras da superfície e entender o que acontece na profundeza.

Alimentar o leitor de um discurso direto ou contar a ele o que acontece na frente do seu nariz nega a ele a oportunidade de participar e descobrir o significado da cena por si mesmo.

Deixe alguns tentadores espaços em branco para o seu leitor preencher.

Definição literária do Subtexto

 

Mas o que usar um subtexto significa?

Subtexto é o não falado, o menos óbvio e, às vezes, procurado significado por trás das palavras e ações em uma cena. Se torna compreensível conforme as cenas e o progresso da história, sendo revelado aos poucos ao leitor por meio dos detalhes.

O subtexto ocorre quando as palavras divergem das ações, e uma luz nos acende na cabeça: as ações são bem mais importantes que as palavras.

Os Diretores de Cinema são fabulosos em tecer subtextos significativos em suas cenas e ganhar rios de dinheiro em cima de roteiros eficazes na submersão do espectador nas profundezas do subtexto. É lá onde ele pode apreciar dos mais profundos significados e se divertir com isso.

Sendo assim, talvez o melhor jeito de admirarmos os subtextos seja por meio dos exemplos. Nos links a seguir, assista alguns cortes de filmes nos quais você vai entender melhor essa linguagem.

Obs.: “Subtextos ocorrem quando as palavras divergem das ações. Como na vida real, as ações de um personagem falam bem mais que suas palavras.”

Exemplos de Subtextos em Filmes

 

Um dos exemplos mais poderosos de subtextos em cenas de filmes que consigo me lembrar vem de “Onde os Fracos não têm vez”. É arrepiante ver o destino de um homem se equilibrar na ponta fina de uma moeda, e ele nem entende a força do momento. Nós, como espectadores, somos capazes de juntar as peças e sentir na pele.

Na busca por extrair o nome do assassino de Hannibal Lecter, a última tentativa desesperada de Clarice está alagada de subtexto em “O Silêncio dos Inocentes”.

Este fabuloso exemplo de subtexto do filme “Sideways - Entre Umas e Outras” nos dá uma visão muito mais profunda do personagem de uma maneira adorável e diferenciada.

E, embora o pão não seja um ingrediente essencial no subtexto, encontrei dois bons exemplos envolvendo esse alimento indescritível:

  1. 1. A famosa cena da torrada em “Kramer contra Kramer”, onde os homens da família se divertem preparando o café da manhã juntos.

  2. 2. A famosa cena da torrada em “Gente Comum”, onde a rejeição eficiente da mãe fala mais alto que palavras.

Obs.: Ah! Você vai curtir assistir a esta breve palestra sobre o uso de subtexto por Hitchcock no filme “Janela Indiscreta".

Contudo, talvez o melhor e mais conhecido exemplo de subtexto em filmes esteja nesse corte de “Noivo Neurótico”. O uso de legendas funciona muito bem para o filme, mas nosso desafio é revelar sutilmente os pensamentos e emoções do nosso personagem sem recorrer às palavras.

De todo modo, vale a pena estudar todos esses exemplos se você quiser dominar o que é o subtexto e como ele funciona. Ainda assim, eu gostaria de te ensinar agora exatamente como aplicar essas lições:

Teoria do Iceberg de Hemingway

 

Ernest Hemingway era brilhante no uso do subtexto, especialmente no quesito de seus contos. Trabalhando como jornalista durante seus primeiros anos, ele desenvolveu o hábito de usar a brevidade nas nuvens e deixar a profundidade do significado brilhar por detrás das cortinas.

Sua história “Colinas como Elefantes Brancos” é um exemplo excelente, clássico, quase clichê, de como usar o subtexto em um diálogo de modo a transmitir o significado de algo sem necessariamente declarar do que se trata com palavras nuas e cruas.

Obs.: Ler seus contos é como uma aula de técnica subtextual. Então, para ter uma ideia melhor do que é o subtexto e como ele pode melhorar sua ficção, tente ler algumas histórias de Hemingway. E comece com “Colinas como Elefantes Brancos”.

Então, como escrevemos o tal subtexto?

Primeiro, você precisa saber:

  1. Quem são seus personagens;

  2. O que eles querem;

  3. E o que está em jogo se não conseguirem atingir seu objetivo.

Lembre-se, o subtexto está na profundeza, então às vezes ajuda escrever um rascunho declarando o que os personagens realmente pensam, sentem e desejam. Este será o nível da superfície.

Em seguida, é hora de enterrar as informações. Para isso, segue aqui alguns exemplos de sete tipos de subtexto, os quais ilustram algumas técnicas que você pode usar para aprofundar o significado de suas cenas.

Sete Técnicas para Aplicar o Subtexto

 
  • 1. Use duplo sentido

Dá uma olhada nessa cena de “Pacto de Sangue”. Está repleta de duplos sentidos e insinuações que permitem ao espectador participar ativamente das cenas.

Claro, você não precisa criar artimanhas tão inteligentes em sua cena, mas usar duplos sentidos é uma excelente maneira de adicionar subtextos.

Exemplo:

Fulano e Cicrana estavam finalmente ali, de frente ao único Hotel da cidade que ainda estava aberto naquela longa hora da noite. Eles se encararam intensamente, com direito à uma pose heróica antes de invadirem o local em busca da pessoa que buscavam. E mesmo numa situação daquelas, Fulano não conseguia negar aquele fato intrínseco para si mesmo. Seu cérebro focava em encontrar o suspeito, mas o resto do corpo só conseguia pensar naquela questão. Um homem e uma mulher, sozinhos num hotel, e à noite!?!

— Safe

  • 2. Mude o Sujeito

Louise evita a investigação discreta de JD sobre suas táticas de evasão e muda de assunto no final desse corte de “Thelma & Louise”.

Não querendo entrar no verdadeiro motivo pelo qual ela se esforça para evitar a polícia, a personagem acha mais fácil (e melhor) mudar de assunto.

Além disso, a tensão se derrama nesta cena, também, porque o espectador já sabe a razão de Louise evitar essa conversa, mesmo que JD não saiba.

  • 3. Dê movimento

Você pode usar da linguagem corporal do seu personagem para esclarecer o significado por trás das palavras.

Nesta cena de “Frasier”, há um monte de subtextos acontecendo. Para este exemplo, quero que você observe o que Daphne e Niles estão dizendo sem usar palavras enquanto ela passa creme na queimadura dele.

A reação deles à entrada de Martin confirma o que todos estamos pensando.

Outro exemplo:

Enquanto o suspeito era levado embora pela polícia, Cicrana ajeitava o cabelo intensamente enquanto esperava por Fulano. Mesmo sentada na confortável cama, não pôde deixar de notar a agitação em ambas as pernas. Saltavam como as de uma gazela em fuga. Fulano então saiu do banheiro, sentou-se ao lado de Cicrana e a encarou por alguns segundos, esperando que as palavras saíssem de sua boca. Ao passo em que seu dedo fazia um movimento circular e acelerado sobre a cama, tudo que Cicrana conseguira tirar de sua boca fora um rápido gaguejo. — Vamos dormir?

— Safe

  • 4. Contraste as ações com as falas

Dá uma olhada nesse exemplo de “Harry e Sally - Feitos Um Para o Outro”. Quem diz nos diz mais: as palavras ou as ações de Sally?

Quando combinar um diálogo forte com ação contrastante, você é obrigado a despertar em seu leito as mesmas emoções vividas pelos personagens.

Fulano caminhou até a cama ao mesmo tempo que terminava de se enxurgar. O abdômen trincado gritava na direção de Cicrana. Tá legal aí? Ele perguntou, desatento. — Nunca estive melhor! E um som alcançou os ouvidos de Fulano. Tambores? O ritmo insano o fez acreditar que havia um Bloco de Carnaval do lado de fora.

— Safe

  • 5. Diga-o sem dizer

Um belo exemplo dessa técnica vem de “Amor a Toda Prova”. Eu especialmente amei a última fala de Carell: “Não quero que você exploda a casa, ” porque o que ele realmente está dizendo é que não quer ela detonando a família deles.

  • 6. Mascare as emoções

Ingrid Bergman está escondendo muito subtexto neste corte de “Casablanca”, e muito disso floresce no mascarar de suas emoções avassaladoras.

Assim como as pessoas fazem na vida real, mostrar como seus personagens tentam encobrir ou fingir que não estão sentindo algo que estão sentindo é uma ótima maneira de incluir subtexto.

  • 7. Responda uma pergunta com uma pergunta.

Aqui está um exemplo rápido e bem-humorado de “Tootsie”, onde você pode interpretar o significado por trás da pergunta do cinegrafista e se divertir.

Tenha o subtexto no seu arsenal de escritor

Finalizando

Agora que você está mais ciente do subtexto e sabe como tecê-lo em suas cenas, procure por oportunidades de aprofundar o impacto de suas histórias usando essas técnicas que te ensinei.

Lembre-se das duas situações em que realmente se encaixa no projeto – quando os riscos emocionais são muito altos para a franqueza e quando você quer que o leitor seja um participante ativo da cena.

Como quaisquer habilidades, escrever subtexto requer prática, então procure exemplos nas histórias que você lê, bem como nos filmes e programas de TV que assiste.

Use as dicas deste artigo como uma ajuda para você desenvolver o subtexto em seus próprios textos. Você vai ver, vai valer a pena o seu tempo e esforço gastos!

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