Diga-me: quantas vezes você, ao longo da escrita de um capítulo, começou a se sentir péssimo, a achar que seu texto está um lixo, a parar de escrever, pensando que você não foi feito para ser escritor ou que não consegue escrever?
Acredito que muitas, né? Bom, saiba que escrever é um fenômeno espantoso, quase misterioso. Num dia você está com as coisas sob controle, no dia seguinte sob o controle delas, perdido em confusão e incerteza. Num dia tudo funciona, no outro não; ninguém sabe como ou por quê. E o processo criativo; que desafia análises; é mágica e maravilha.
Tudo o que foi dito ou registrado sobre a experiência de escrever desde o início dos tempos resume-se a uma coisa — escrever é sua experiência particular, pessoal. De ninguém mais.
Muita gente contribui para a feitura de um livro, mas o escritor é a única pessoa que se senta e encara o documento .docx (ou .pdf) em branco.
Escrever é trabalho duro, uma tarefa cotidiana, de sentar-se diariamente diante de seu computador, tablet ou celular, colocando palavras no documento .docx (ou .pdf).
Mas, assim como 1+1=3 — o três é aquele outro fator onde o todo é maior que a soma de suas partes — eu, o criador deste artigo, busquei em vários e vários lugares um documento que explicasse aquela sensação que eu e vários outros escritores já relataram sentir e, quem sabe, uma possível cura.
Este artigo é o resultado de uma parte de todas as minhas pesquisas. Sua fonte nada mais é do que um livro de 1978~1982, de um escritor que não encontrou a cura, mas um tratamento diário para combater os sintomas desse grande mal.
Seu nome era Syd Field.
Você tem que investir tempo
Antes de começar a escrever, você tem que achar tempo para escrever.
"Quantas horas por dia você precisa dedicar-se a escrever?"
Depende de você. Syd Field trabalhava cerca de quatro horas por dia, cinco dias por semana. John Millius escrevia uma hora por dia, sete dias por semana, entre 5 e 6 da tarde. Stirling Silliphant, que escreveu The Towering Inferno (Inferno na Torre), às vezes escrevia 12 horas por dia. Paul Schrader trabalhava com a história na cabeça por meses, contando-a para as pessoas até que ele a conheça completamente; então ele "pulava na máquina" e a escrevia em cerca de duas semanas. Depois ele gastaria semanas polindo e consertando a história.
"Você precisa de duas a três horas por dia para escrever um capítulo."
Olhe para a sua agenda diária. Examine o seu tempo. Se você trabalha ou estuda em horário integral, ou cuidando da casa e da família, seu tempo é limitado. Você terá que achar o melhor horário para escrever. Você é o tipo de pessoa que trabalha melhor pela manhã? Ou só vai acordar e ficar alerta no final da tarde? Tarde da noite pode ser um bom horário — o horário dos escritores, como Rose Kethen dizia. Descubra.
Você pode acordar e escrever algumas horas antes de ir para o trabalho/escola; ou, voltar do trabalho/escola, trocar de roupa e escrever algumas horas. Você pode querer escrever à noite, digamos por volta das 22 ou 23 horas, ou pode ir para a cama cedo e acordar em torno das 4 da manhã para escrever. Se você é dona/dom de casa e tem família, pode querer escrever quando todo mundo já saiu, tanto no meio da manhã quanto no meio da tarde. Você é o juiz sobre a que horas, dia ou noite, pode conseguir de duas a três horas sozinho.
E algumas horas sozinho são algumas horas sozinho. Sem telefone, sem amigos para o cafezinho, sem conversa fiada, sem tarefas domésticas, sem exigências de maridos, esposas ou filhos. Você precisa de duas a três horas sozinho, sem interrupção.
Pode levar um tempo até você encontrar o tempo "certo". Tudo bem. Experimente, certifique-se de que é o melhor horário para você escrever.
Escrever é uma tarefa cotidiana.
Você escreve seu capítulo plano a plano, cena a cena, página a página, dia a dia. Estabeleça metas para si mesmo. Três páginas por dia é razoável e realista. São quase 1.000 palavras por dia. Se um capítulo de webnovel tem, em média, 2.500 palavras, e você escreve quase 1.000 palavras por dia, cinco dias por semana, quanto tempo vai demorar para que escreva um volume inteiro?
Quarenta dias de escrita. Se você escreve cinco dias por semana, isso significa que você poderá ter um volume inteiro em cerca de oito semanas. Uma vez que comece o processo de escrever, haverá dias em que você escreverá dez páginas, dias de seis páginas e por aí vai. Apenas certifique-se de escrever três páginas — quase 1.000 palavras — por dia. Ou mais.
Se você é casado, ou tem um relacionamento, vai ser difícil — você precisa de algum espaço e tempo pessoais, além de apoio e encorajamento.
Donas e Donos de casa geralmente têm mais dificuldades que os outros. Maridos (ou esposas) e filhos não são muito compreensivos ou solidários. Não importa quantas vezes você explique que "vai estar escrevendo", isso não ajuda. Fazem a você exigências difíceis de ignorar. Muitas das alunas casadas de Syd Field diziam que seus maridos ameaçam deixá-las a menos que parem de escrever; seus filhos tornam-se "animais". Maridos e filhos sabem que há interferências em sua rotina doméstica, e não gostam disso. Frequentemente, sem querer, é claro, eles se penduram na "Mamãe", que simplesmente deseja algum tempo, espaço e liberdade. É difícil de segurar; sentimentos de culpa, raiva ou frustração se colocam no caminho e se você não tomar cuidado pode facilmente tornar-se uma vítima de suas próprias emoções.
Quando você está passando pela experiência de escrever, está perto de seus entes queridos em corpo, mas sua mente e concentração estão a milhares de quilômetros de distância. A família não quer saber ou compreender que seus personagens estão numa situação dramática altamente carregada; você não pode perder a concentração para lidar com petiscos, refeições, lavanderia e compras que faz normalmente.
Não espere isso. Se você tem relacionamentos, seus entes queridos dirão que compreendem e que serão solidários, mas não serão — não de verdade. Não porque não queiram, mas porque não entendem a experiência de escrever.
Não se sinta "culpado" de reservar o tempo de que necessita para escrever seu livro. Se você espera que sua esposa, marido ou namorado "fiquem aborrecidos", ou "não compreendam", quando você está escrevendo, não ficará transtornado quando isso acontecer. Se acontecer. Você tem que estar escrevendo "por escolha"; espere por "momentos difíceis" e eles não chatearão, se acontecerem.
Abaixo, deixarei uma nota que Syd Field fez para todos os maridos, esposas, namorados, amigos e filhos:
"Se seu marido, esposa, namorado ou pai está escrevendo um livro, ele precisa de seu amor e apoio.
Dê a ele ou ela a oportunidade de explorar seu desejo de escrever um livro. Durante o período em que estiverem escrevendo, entre três e seis meses, ele(a) ficará melancólico(a), explosivo(a), facilmente irritável, preocupado(a) e distante. Sua rotina diária sofrerá interferências e você não vai gostar disso. Vai ser desconfortável.
Você está disposto(a) a lhe dar espaço e oportunidade para escrever o que ele(a) queira? Você o(a) ama o bastante para dar apoio aos seus esforços mesmo que isso interfira na sua vida?
Se a resposta é "não", converse sobre isso. Arranje um jeito em que ambos os lados possam vencer, e então dar-se apoio mútuo. Escrever é um trabalho solitário. Para uma pessoa que tem um relacionamento, torna-se uma experiência solidária."
Estabeleça um horário de trabalho. De 10:30 ao meio-dia; ou de 8 às 10 da noite; ou de 9 à meia-noite. Com um horário, o "problema" da disciplina fica mais fácil de resolver.
Decida sobre quantos dias você estará escrevendo. Se está trabalhando em horário integral, na escola ou envolvido(a) num casamento ou relacionamento, você não pode esperar. Escreva um capítulo em um ou dois dias por semana. Dessa maneira, a energia criativa se dissipa. Você tem que focalizar e concentrar-se claramente no capítulo que está escrevendo. Você precisa de pelo menos quatro dias por semana.
Com seu horário estabelecido você pode sentar-se para escrever; e num belo dia você se senta e escreve.
Qual é a primeira coisa que acontece?
Resistência, é o que acontece.
Depois de escrever a primeira linha, você será subitamente tomado(a) por uma "urgência" de limpar sua área de trabalho. Você achará uma razão, ou desculpa, para não escrever. Isso é Resistência.
Escrever é um processo experimental, um processo de aprendizado que envolve a aquisição de habilidade e coordenação; é como andar de bicicleta, nadar, dançar ou jogar tênis.
Ninguém aprende a nadar ao ser atirado na água. Você aprende a flutuar, a sobreviver. Você aprende a nadar aperfeiçoando sua forma, e só pode fazer isso nadando de verdade; quanto mais pratica, melhor fica.
É a mesma coisa para escrever. Você vai experimentar alguma forma de Resistência. Ela aparece de vários jeitos e na maioria das vezes nós nem percebemos o que está acontecendo.
Por exemplo: quando você se senta para começar a escrever, pode querer limpar a geladeira. Ou lavar o chão da cozinha. Pode querer se exercitar, trocar os lençóis, dar uma volta de carro, comer ou fazer… atos libidinosos. Algumas pessoas saem e compram 500 reais em roupas que não querem! Ou ficam raivosas, impacientes, e gritam com todo mundo e ninguém por nenhuma razão em particular.
"Todas são formas de Resistência."
Uma das formas de Resistência favorita de Syd Field é sentar para escrever e subitamente ter uma ideia para outro roteiro, uma ideia muito melhor; uma ideia tão original, tão excitante, que ele se pergunta o que está fazendo ao escrever "aquele" roteiro. Você realmente pensa nisso.
Você pode ter duas ou três ideias "melhores". Acontece frequentemente; pode ser uma grande ideia, mas é uma forma de Resistência! Se for realmente uma boa ideia, ela se sustentará. Simplesmente escreva-a numa página ou duas e a arquive. Se decidir perseguir esta "nova" ideia e abandonar o projeto original, você vai descobrir a mesma coisa acontecendo; quando sentar para escrever, terá uma outra nova ideia, e assim sucessivamente. É Resistência; um desvio mental, uma maneira de evitar escrever.
Todos fazemos isso. Somos mestres em criar razões e desculpas para não escrever; é simplesmente uma "barreira" ao processo criativo.
Como lidar com isso?
Simples. Se você sabe que vai acontecer, simplesmente reconheça quando acontece. Quando estiver limpando a geladeira, apontando o lápis ou comendo, apenas saiba o que você está fazendo; experimentando Resistência! Não é um problemão. Não se deprima, não se sinta culpado(a) ou puna a si mesmo(a). Apenas reconheça a Resistência — depois a atravesse diretamente para o lado oposto. Não finja que não está acontecendo. Está! Uma vez que você lide com a sua Resistência, estará pronto(a) para começar a escrever.
As primeiras páginas são as mais difíceis. Seu texto ficará desajeitado e provavelmente não muito bom. Tudo bem. Algumas pessoas não serão capazes de lidar com isso; decidirão que o que estão escrevendo não é bom. Vão parar, íntegros e justificados, porque sabem que "não conseguem fazer isso".
"Escrever é uma coordenação de aprendizagem; quanto mais você pratica, melhor fica."
A princípio, seu diálogo provavelmente não será muito bom.
Lembre-se de que o diálogo é uma função do personagem. Vamos rever o propósito do diálogo. Ele…
● …move a história adiante;
● …comunica fatos e informações ao leitor;
● …revela o personagem;
● …estabelece os relacionamentos do personagem;
● …empresta realidade, naturalidade e espontaneidade ao seu personagem;
● …revela os conflitos da história e personagens;
● …revela os estados emocionais de seu personagem; e
● …comenta a ação.
Suas primeiras tentativas provavelmente ficarão formais, banais, fragmentadas e tensas. Escrever diálogos é como aprender a nadar; você vai se debater um bocado, mas quanto mais praticar mais fácil ficará.
São necessárias entre 25 e 50 páginas antes que seus personagens comecem a falar com você. E eles de fato começam a falar com você. Não se preocupe com o diálogo. Apenas continue escrevendo. Diálogos sempre podem ser ajustados.
Aqueles de vocês que procuram por "inspiração" para guiá-los, não vão encontrar.
A inspiração é medida em momentos, uns poucos minutos, ou horas, e um volume é medido em semanas e meses. Se escrever um livro demanda 100 dias e você está "ligado(a)" em 10 desses dias, considere-se com sorte. Ficar "ligado(a)" por 100 dias, ou 25 dias, simplesmente não acontece. Você pode "ouvir" que acontece, mas na verdade é como o pote de ouro no fim do arco-íris — você está perseguindo um sonho.
— Mas… — você dirá.
"Mas" o quê?
Escrever é uma tarefa cotidiana, duas a três horas por dia, três a quatro dias por semana, três páginas por dia, dez páginas por semana. Plano a plano, cena a cena, página a página, sequência a sequência, ato a ato.
"Quando você está no paradigma, não pode ver o paradigma."
Como construir seu capítulo?
Use cartões de 12 X 8 cm (ou um documento .docx ou .pdf em branco, mesmo).
Pegue um pacote de cartões 12 X 8 cm (ou simplesmente crie um documento em branco no seu app de escrita favorito, sério). Escreva a ideia para cada cena ou sequência num único cartão (ou parágrafo), e talvez algumas breves palavras de descrição para ajudá-lo quando for escrever. Por exemplo, se você tem uma sequência sobre o seu personagem no hospital, pode indicar diversas cenas, uma por cartão (ou parágrafo); chegada do personagem ao hospital; ele se registra na recepção; os médicos o examinam; exames são feitos; vários testes médicos, como raios-X, sangue, urina, são levados a cabo; parentes e amigos o visitam; seu companheiro de enfermaria pode ser alguém de quem ele não goste; os médicos podem discutir o caso com parentes; seu personagem pode estar na unidade de terapia intensiva. Tudo isso pode ser especificado em poucas palavras em cada cartão (ou parágrafo). Cada descrição pode ser escrita como uma cena, todas dentro da sequência denominada "Hospital".
"Você pode usar quantos cartões (ou parágrafos) quiser."
Sua história determina quantos cartões (ou parágrafos) você vai precisar. Confie na sua história! Deixe que ela lhe diga quantos cartões (ou parágrafos) precisa, sejam 12, 48, 52, 80, 96, 118; não importa. Confie na sua história.
O sistema de cartões é um método incrível. Você pode arrumar as cenas do jeito que quiser, rearranjá-las, acrescentar algumas, omitir outras. É um método simples, fácil e eficiente, e que lhe dá a máxima mobilidade na construção do capítulo.
Ele é seu mapa e seu guia, os pontos de virada seus pontos de referência ao longo do caminho, o posto de gasolina, sua "última chance" antes de penetrar no deserto escaldante, e o final, sua destinação. O que há de bom no sistema de cartões é que você pode esquecê-lo. Os cartões (ou parágrafos) já cumpriram seu propósito. No computador, ou tablet ou celular, você "descobrirá" subitamente uma nova cena que funciona melhor ou na qual você não tinha pensado antes. Use-a.
Não importa se você quer descartar cenas ou acrescentar novas; faça isso. Sua mente criativa já assimilou os cartões (ou parágrafos), de forma que você pode jogar fora algumas cenas e ainda assim continuar seguindo a direção de sua história.
Ao trabalhar com os cartões (ou parágrafos), você estará trabalhando com os cartões (ou parágrafos). Ao escrever, estará escrevendo. Esqueça a fidelidade rígida aos cartões (ou parágrafos). Deixe-os guiá-lo, não seja escravo deles. Se, no computador, você sentir um momento espontâneo que lhe dá uma história melhor e mais fluente, escreva-o.
Continue escrevendo. Dia a dia, página a página. E durante o processo de escrever você descobrirá coisas que nunca soube sobre si mesmo. Por exemplo, se está escrevendo sobre algo que lhe aconteceu, você pode reviver alguns daqueles velhos sentimentos e emoções. Você pode ficar "desequilibrado(a)" e irritadiço(a) e viver cada dia de sua vida como se estivesse numa montanha-russa emocional. Não se preocupe. Apenas continue a escrever.
Você vai passar por três estágios enquanto escreve o seu capítulo.
"O primeiro estágio é o das 'palavras no papel'."
Este é quando você escreve tudo.
Se você está em dúvida sobre escrever ou não uma cena, escreva-a. Em caso de dúvida, escreva. Esta é a regra. Se você começar a se censurar, pode terminar com um capítulo de 900 palavras, o que é muito pouco. Você terá que acrescentar cenas a uma estrutura enxuta para fazê-lo do tamanho certo, e isso é difícil. É mais fácil cortar cenas do que acrescentá-las num capítulo já estruturado.
Mantenha-se movendo a história para adiante. Se você escreve uma cena e volta para ajustá-la, fazer um polimento e "escrevê-la do jeito certo", vai estar exausto ao longo das 600 palavras e talvez engavete o projeto. Muitos escritores que Syd Field conheceu e que tentaram escrever um capítulo dessa forma fracassaram antes do fim. Quaisquer mudanças de maior monta devem ser feitas na revisão.
Haverá momentos em que você não sabe como começar uma cena, ou o que fazer em seguida. Você conhece as cenas nos cartões, mas não sabe como traduzi-las visualmente.
Pergunte a si mesmo "O que acontece agora?" e você terá uma resposta. É geralmente o primeiro pensamento que aparece em sua cabeça. Agarre-o e passe-o para o papel. Isso é o que Syd Field chama de "captura criativa", porque você tem que ser rápido o bastante para "capturar" o pensamento e colocá-lo no papel.
Muitas vezes você tentará desenvolver essa primeira ideia para "torná-la melhor". Se o seu primeiro pensamento é fazer uma cena num carro descendo uma rodovia, e decide fazê-la numa caminhada no campo ou numa caminhada na praia, você perderá um pouco da energia criativa. Faça isso muitas vezes e seu roteiro vai refletir uma qualidade deliberada, "forçada". Não vai funcionar.
Há somente uma regra que governa o seu texto; não se ele é "bom" ou "ruim", mas ele funciona? Sua cena funciona? Se funciona, mantenha-a, não importa o que digam.
Se funciona, use. Se não, não use.
Se você não sabe como entrar ou sair de uma cena, faça associações livres. Deixe sua mente vagar; pergunte a si mesmo sobre a melhor forma de abordar a cena; confie em você; você encontrará a resposta.
Se você criou um problema, vai ser capaz de resolvê-lo. Tudo o que você tem a fazer é procurar a solução.
Problemas de roteiro sempre podem ser solucionados. Se você os criou, pode solucioná-los. Se você está paralisado, pense nas suas pessoas; reveja a biografia do seu personagem e pergunte a ele o que ele faria nessa situação. Você terá uma resposta. Pode levar um minuto, uma hora, um dia, vários dias, uma semana, mas você terá uma resposta; provavelmente quando você menos espera, onde você menos espera. Apenas continue perguntando a si mesmo: "Do que preciso para resolver esse problema?" Pense nisso constantemente, especialmente antes de dormir. Ocupe-se com ele. Você encontrará uma resposta.
Escrever é a habilidade de fazer-se perguntas e obter respostas.
Às vezes você chega a uma cena e não sabe para onde ir, ou o que procurar para fazê-la funcionar Você conhece o contexto, não o conteúdo. Então escreva a mesma cena cinco vezes diferentes, de cinco pontos de vista diferentes, e de todas essas tentativas você pode encontrar uma linha que lhe dê a chave para o que procura.
Você vai reescrever a cena usando aquela linha como um trilho de pensamento e finalmente será capaz de criar algo dinâmico e espontâneo. Você só tem que encontrar o seu caminho.
E confie em si mesmo.
Em torno de 800 ou 900 palavras, a resolução está se formando, e você descobrirá que o capítulo está literalmente escrevendo a si mesmo. Você é como um médium, investindo tempo para finalizar o capítulo. Você não tem que fazer nada; ele se escreve sozinho.
Você pode levar de seis a oito dias para completar seu primeiro estágio, "palavras no papel".
Escrever um capítulo é escrever um capítulo. Não existem atalhos.
"Depois você estará pronto para entrar no segundo estágio: dar uma olhada fria, dura e objetiva no que está escrito."
Este é o estágio mais mecânico e desestimulante ao escrever um capítulo. Você pega um capítulo que tem talvez entre 18 e 20 páginas e o reduz para 13~14 páginas. Você cortará cenas, acrescentará umas novas, reescreverá outras e fará todas as modificações necessárias para transformá-lo numa forma que possa ser trabalhada. Isso pode levar cerca de três dias para fazer.
"Quando terminar, você estará pronto para abordar o terceiro estágio, que é quando você vê o que tem, que história escreveu realmente."
Você fará polimentos, criará ênfases, afiará cortes e a reescreverá, ajustará o tamanho e dará vida a tudo. Você já superou o paradigma, então pode ver o que deve fazer para
torná-la melhor. Neste estágio você poderá reescrever uma cena até dez vezes antes de considerá-la perfeita.
Sempre haverá uma cena ou outra que não funciona do jeito que você queria, não importa quantas vezes você a reescreva.
Você sabe que essas cenas não funcionam, mas o leitor jamais saberá. Ele lê preocupado com a história e com a produção, não com o conteúdo. Syd Field costumava ler um roteiro em 40 minutos, visualizando as imagens, em vez de prestar atenção ao estilo da prosa ou ao conteúdo. Não se preocupe com as poucas cenas que você sabe que não funcionam. Deixe-as como estão.
Você descobre que as cenas de que mais gosta, aqueles momentos de ação e diálogo inteligentes, espertos e brilhantes, podem ter de ser cortados quando reduzir o capítulo para um "tamanho aceitável". Você tentará mantê-los — afinal estes são os seus melhores textos — mas no fim das contas você tem que fazer o que for melhor para o seu capítulo. Syd Field tem um arquivo de "melhores cenas" onde coloca as "melhores" coisas que já escreveu. Ele teve que cortá-las para enxugar o seu roteiro.
Você tem que aprender a ser implacável ao escrever um capítulo, para às vezes cortar o que sabe ser a melhor coisa que já escreveu; se não funciona, não funciona. Se suas cenas se destacam e chamam muita atenção para si, podem impedir o fluxo da ação. Cenas que se destacam e funcionam são as cenas que serão lembradas.
Todo bom filme, por exemplo, tem uma ou, possivelmente, duas cenas de que as pessoas sempre se recordam. Essas cenas funcionam dentro do contexto dramático da história. E são também as cenas marcantes que mais tarde tornam-se imediatamente reconhecíveis.
Se você não sabe se suas cenas "escolhidas" funcionam, elas provavelmente não funcionam. Se você tem que pensar sobre isso, ou questionar, significa que não está funcionando. Você saberá quando uma cena funciona. Confie em si mesmo.
Continue a escrever; dia a dia, página a página. Quanto mais você pratica, mais fácil fica. Quando estiver quase terminando, talvez a 1000 ou 1500 palavras do fim, você pode descobrir que está "se segurando". Você gastará quatro horas escrevendo uma cena ou uma página, e se sentirá cansado e indiferente. É um fenômeno natural; você simplesmente não quer terminar, não quer completar o roteiro.
Deixe estar. Apenas atente que você está "se segurando" e deixe estar. Um dia você fará um cliffhanger — e você terá terminado.
O capítulo estará terminado.
É hora de celebração e alívio. Ao terminar, você experimentará todos os tipos de reação emocional. Primeiro, satisfação e alívio. Alguns dias depois, você estará triste, deprimido, e não saberá o que fazer com o seu tempo. Você pode dormir um bocado. Ficar sem energia. Isto é o que Syd Field chama de período de "depressão pós-parto". É como dar à luz a uma criança; você trabalhou em algo por um período substancial de tempo. Tem sido parte de você. Algo que o despertava pela manhã e o mantinha acordado à noite. Agora acabou. É natural ficar triste e deprimido. O final de algo é sempre o início de outra coisa. Finais e inícios, certo?
Tudo faz parte da experiência de escrever um capítulo.
***
Fonte:
"Manual do Roteiro" – Syd Field
Gostei muito, um artigo muito necessário
Gostei