Quando falamos de histórias e da sua temporalidade, sempre tem certos elementos que os leitores se atentam. Pode ser um personagem introduzido de maneira misteriosa, um item que não foi dada importância ou uma pequena informação que é crucial para o enredo. Em outras ocasiões pode ser a conveniência dos acontecimentos, a atitude de um personagem e quem sabe os motivos de determinada coisa acontecer.
Tudo isso compõe alguns dos elementos da trama que se criam, montam ou dispersam a tensão de uma história, e costumam ser os mais fáceis de usar e mais conhecidos pelos próprios leitores. O público comum não procura uma história perfeita, eles procuram algo que os instigue a ler mais, logo, tanto o Foreshadow quanto o Forebonding caem nessa questão como uma luva, e é sobre eles que falaremos nesses artigos e seus usos em histórias.
FORESHADOW! O QUE DIABOS É ISSO?!
Você é o tipo de autor que ama um bom mistério de assassinato ou um suspense? Você sonha em criar um livro cativante e cheio de suspense que vai puxar os leitores até o fim e deixá-los formigando?
Se você respondeu sim, provavelmente também notou que isso não é uma tarefa fácil. Mais do que qualquer outro gênero, romances de mistério, Thriller e histórias de suspense convidam o leitor a participar ativamente do desenvolvimento do plot, usando certas pistas para prever alguns resultados.
Isso pode ser difícil de realizar.
O caminho para finalizar um produto é cheio de armadilhas, mas você pode aprender técnicas que vão te carregar de forma segura através desse caminho até completar uma história da qual possa ter orgulho.
Foreshadow Vs Coincidência
Ao navegar pelo tortuoso caminho de se escrever um mistério, thriller, ou suspense, um dos maiores desafios que você enfrentará é fazer com que tudo que acontece pareça natural e inevitável. Te lembra alguma coisa?
Alguns dias atrás, meu marido e eu dirigimos com um grande grupo de amigos para Frankfurt, Alemanha. Depois de passarmos um tempo juntos, nos dividimos entre outros carros, cada um saindo em horas diferentes e indo por rotas variadas. Quando passamos pela entrada de uma autoestrada perto de casa, um carro surgiu bem atrás de nós, um carro cheio de amigos dos quais nos separamos antes.
Eu amo quando esse tipo de coisa acontece na vida real, uma coincidência.
Mas quando acontece em um livro, parece inventado e irreal.. Eu não quero que meus leitores se sintam manipulados, e eu aposto que você sente o mesmo a respeito dos seus.
Para evitar esse tipo de armadilha nas histórias, eu precisei dominar o dispositivo da literatura chamado Foreshadow. Sabendo o que isso é e como usá-lo para atrair leitores para uma história, é crucial fazer a história parecer acreditável (crível) e divertida.
Definição de Foreshadow
Foreshadowing é a tecelagem de dicas em uma obra de ficção com o propósito de fazer com que os eventos futuros da história pareçam naturais e consistentes.
É o antídoto para a coincidência e, se feito corretamente, prepara o leitor para uma futura reviravolta sem entregá-la de bandeja.
Os leitores são pessoas inteligentes. Eles sabem que tudo na história está lá com base na necessidade de saber e, portanto, figurará em algum momento.
Cada objeto significativo, pessoa, ou fato precisa ser plantado na história antes de ser verdadeiramente usado. E todos esses pontos da trama precisam entrar em jogo, caso contrário, serão apenas uma mosca irritante zumbindo no subconsciente do leitor.
Lembre-se do sábio conselho de Chekhov quando pensar em Foreshadow:
Se uma arma está pendurada na parede no primeiro ato, ela precisa atirar no último.
Ative seu Leitor
Quanto mais um leitor coloca em uma história, mais eles vão tirar dela. Você atrai seu leitor para o seu livro e o torna um participante ativo, levantando uma grande questão dramática e atrasando a resposta até o final, enquanto encadeia perguntas intermediárias ao longo do caminho. Ou seja, você gradativamente acumula questões no seu leitor para que ele possa tirar cada vez mais conclusões.
Em adição, você ativa seu leitor usando todas as técnicas necessárias para realizar elementos do suspense:
➔ Você leva o leitor a fundo no ponto de vista do personagem;
➔ Você faz o leitor se importar com o protagonista;
➔ Você progressivamente aumenta o risco;
➔ Você entrega informações em devida ordem;
➔ Você cria cliffhanger para preencher as lacunas entre cada capítulo;
➔ Você acompanha a história corretamente;
➔ Você usa a ação para levar a história adiante.
Essas são as técnicas que constroem um suspense e prendem a atenção do leitor. Foreshadow, pistas e pistas falsas são migalhas de pão que eles vão pegar ao longo do caminho para estimular a atividade mental.
Por que o Foreshadow Importa?
A chave para escapar dos leitores que se sentem manipulados, é construir o foreshadow dentro da narrativa.
Por exemplo, considere o filme Duro de Matar.
Os roteiristas escolheram mostrar John McClane movendo-se em um caminho lógico até o Nakatomi Plaza para encontrar sua esposa para uma festa de Natal. Essas cenas são intercaladas com cortes de um caminhão passando pelo trânsito, acompanhado de uma música ameaçadora. Quando esses dois caminhos se cruzam, não nos parece coincidência que McClane esteja no mesmo prédio que a gangue de vilões atinge porque foi prenunciado que eles se encontrariam.
Além disso, você notou como o fato de McClane estar descalço tem um impacto significativo nos eventos da história? Viu como isso aumenta as complicações e os riscos? Ele não apenas coincidentemente tirou os sapatos. Isso foi prenunciado nas primeiras cenas do filme, fazendo parecer uma ocorrência lógica.
Dê uma olhada em alguns dos tipos de foreshadow que você pode usar para criar suspense e prender os leitores em sua história.
10 Técnicas Chave do Foreshadow para Usar Enquanto Escreve
Existem dezenas de técnicas que você pode usar para prenunciar eventos em sua história.
Descobri que estes dez importantes métodos de foreshadow funcionam muito bem na escrita, e a obra Jogos Vorazes, por Suzanne Collin’s, é um ótimo estudo de caso para prová-los.
O foreshadowing permite que os escritores incluam reviravoltas na trama envolventes que não parecem convenientes. Estes 10 métodos inteligentes irão ajudá-lo a fazer exatamente isso.
Foreshadow em Jogos Vorazes: Estudo do Caso
Alerta de Spoiler!
1. Enfatize Elementos Importantes
Dedique mais tempo em descrever alguma coisa que, mais tarde, fará parte do enredo da história. Os leitores vão subconscientemente entender que aquilo vai se tornar importante e vão esperá-lo aparecer novamente.
Por exemplo, se a sua cena climática vai ter lugar num moinho com uma roda d’água, quando você apresenta essa configuração no início da história, descreva-o ー através do ponto de vista do seu personagem ーcom um detalhamento maior do que você normalmente daria para as suas descrições. Isso dá um sinal para o seu leitor, avisando-o de que aquele lugar será de importância para a história.
Isso também ajuda a facilitar o ritmo do clímax, porque você preparou as bases antes do tempo.
Em Jogos Vorazes, a primeira vez que Katniss encontra o broche do mockingjay é quando ela e Gale entregam morangos na casa do prefeito no dia da colheita. Eles conversam com Madge, a filha do prefeito, que usa o broche no vestido.
Collins não exagera nos detalhes. Tudo aqui é rígido e escasso, conferindo um sabor sombrio ao dia da colheita. Mas ela passa tempo suficiente no alfinete para nos informar que é significativo.
Referindo-se a Gale, ela escreve:
“Seus olhos pousam em um pequeno alfinete circular que adorna o vestido dela. Ouro verdadeiro. Lindamente trabalhada. Poderia manter uma família no pão por meses.”
O alfinete aparece de novo e de novo ao decorrer da história. Esse uso de Foreshadow estabelece as bases não apenas para Jogos Vorazes, mas também estabelece temas e eventos futuros para toda a trilogia.
2. Nomeio-o
Nomear um detalhe importante com antecedência faz com que o leitor se questione sobre ele. Significa que estão prestando atenção e que provavelmente vão se lembrar quando ele surgir novamente.
A chave para esta técnica é balancear o mistério do objeto ou evento nomeado com detalhes práticos, permitindo que ele fique lá e desperte a curiosidade sem a necessidade de enterrar o leitor numa montanha enorme de enigmas.
Por exemplo, aqui está o parágrafo de abertura da história de Shirley Jackson, “The Lottery”:
“A manhã de 27 de junho estava limpa e ensolarada, com o calor fresco de um dia de verão; as flores desabrocharam profusamente e a grama estava ricamente verde. As pessoas da aldeia começaram a reunir-se na praça, entre os correios e o banco, por volta das dez horas; em algumas cidades havia tanta gente que a loteria demorou dois dias e teve de ser iniciada no dia 26 de junho. Mas nesta aldeia, onde havia apenas cerca de trezentas pessoas, toda a loteria levou menos de duas horas, então poderia começar às dez horas da manhã e ainda terminar a tempo de permitir que os aldeões chegassem em casa para o jantar do meio-dia.”
Você vê como simplesmente nomear a loteria dá significado e levanta questões? Jackson faz da loteria um mistério, mas a coloca em meio a detalhes prosaicos para que ela se destaque ainda mais.
Eu sinto que “The Lottery” foi uma clara inspiração para Collin’s ao escrever Jogos Vorazes. Como Jackson, Collins menciona a Colheita no primeiro parágrafo da história, e nossos sentidos nos alertam que ela não está falando de uma simples colheita agrícola. Quando ela nomeia a Cornucópia, intuímos que ela desempenhará um papel significativo nos próximos eventos.
E é claro, o título Jogos Vorazes nomeia e prenuncia uma experiência sinistra pela frente.
A Colheita não é apenas um evento qualquer, é toda a arena dirigindo o enredo principal.
3. Detalhes nos Diálogos
Crie um prenúncio no diálogo entre os personagens ou coloque-o no monólogo interno do ponto de vista de um personagem enquanto ele resolve um problema ou se preocupa com um evento futuro. Use este método para influenciar os pensamentos do leitor e prenunciar pontos importantes da história.
Isso pode ser tão simples quanto uma declaração como: “George está voltando para casa amanhã”. Ou: “Ligo para você quando o pacote chegar”.
Você também pode colocá-lo em uma ameaça: “Você vai desejar que nunca tivesse dito isso!”. Ou, “Alguém deveria atirar em você pelo o que você fez.”
Jogos Vorazes contém vários exemplos de foreshadow entregues através do diálogo. Uma dessa ocorrências é quando Gale, falando sobre os vinte distritos, diz:
É uma vantagem para a Capital nos ter divididos entre nós.
Como o broche mockingjay, a experiência de Katniss com plantas e bagas repetidamente entra em jogo. Um dos casos mais poderosos ocorre perto do final do romance, quando Peeta recolhe um punhado de frutas, despertando uma memória em Katniss:
A voz do meu pai volta para mim. “Não estes, Katniss. Nunca estes. Eles são noturnos. Você estará morta antes que eles cheguem ao seu estômago.”
Essa pequena memória imediatamente salva ela e Peeta e também já prenuncia sua futura salvação.
4. Momentos de Espelho
Essa é uma efetiva ferramenta de foreshadow que você vê com frequência quando uma história é enquadrada por “in media res”, o que significa que os eventos no início prenunciam a cena climática, talvez resultando em fracasso na frente e na imagem invertida do sucesso no final.
Mas você também pode usá-lo em uma escala menor, em um flashback, um flashforward ou “segurando um espelho” para refletir e prenunciar algo que está acontecendo na história. Às vezes começa com uma imagem menor cujo reflexo cresce.
Em Jogos Vorazes, Katniss relembra uma memória significativa quando estava faminta, desanimada e prestes a desistir:
“O jovem Peeta, filho do padeiro, queima alguns pães e os joga para Katniss, ganhando uma surra, mas proporcionando um ponto de virada na vida dela. Ele se sacrificou por ela então, prenunciando que ele se sacrificaria por ela novamente. Quantas vezes for preciso.”
Outra coisa que vale a pena mencionar, é o relato obrigatório no dia da Colheita da rebelião que gerou o início do Hunger Games. Isso prenuncia a revolta que acabará por acabar com a prática bárbara.
5. Revelação do Narrador
Isso pode variar desde o ponto de vista do personagem declarando que algo em particular vai acontecer, até o POV do personagem fazer uma revelação parcial que levanta mais perguntas do que respostas. Em ambos os casos, os leitores esperam para ver como os eventos se desenrolam.
Por exemplo, uma das bruxas em Shakespeare’s MacBeth nos diz desde o início:
“Pela picada dos meus polegares, algo perverso vem por aí.”
Uma peça de foreshadow direto que nos permite saber que o mal está à caminho.
Eu consigo pensar em vários momentos como esse em Jogos Vorazes:
“Enquanto a família Everdeen se prepara para participar da colheita, Katniss pensa em como isso deve ser difícil para Prim – sua primeira vez. Ela se conforta com este pensamento: ela está tão segura quanto pode ficar, já que ela só entrou uma vez.”
Oh, a ironia!
A coisa mais linda sobre esse exemplo é a maneira como Collin’s o torce para uma tensão dramática. Ela deixa os leitores saberem que Katniss tem seu nome na bola de vidro vinte vezes, e Gale quarenta e duas vezes, deixando claro que as chances não estão a seu favor.
Por causa da maneira que nós instintivamente sabemos como uma história funciona, nós já sabemos que Katniss vai para os jogos. Mas Collins joga uma bola curva quando ela faz Effie Trinket desenhar o nome de Prim em vez disso. Isso adiciona uma boa reviravolta, tanto para a história quanto para nossos corações, desde que nós vemos Katniss sacrificar a si mesma pela irmã. Grande revelação de personagem.
Perto do final da história, Katniss reflete sobre a natureza sanguinária dos jogos e jura que nunca deixará os nomes de seus filhos entrarem naquele meio. Na época, ela acredita que é porque nunca terá filhos, mas prenuncia outro caminho para o mesmo resultado.
6. Traços do Personagem
Um jeito de você prenunciar um conflito é desenvolvendo seu personagem principal e entregando ao seu leitor alguns vislumbres de como seu personagem está numa rota de colisão com uma força oposta. É claro, isso também se aplica a personagens secundários.
Em O Poderoso Chefão, o comportamento agressivo de Sonny Corleone prenuncia eventos futuros no filme, pois sua falta de contenção leva a consequências terríveis, incluindo sua própria morte.
Em O Mágico de Oz, muitas das características dos personagens são prenunciadas no início e concretizadas à medida que a história se desenrola. Por exemplo, a senhorita Gulch é claramente retratada como uma bruxa, o lavrador Zeke encoraja Dorothy a ser corajosa, e Hickory insiste que algum dia eles vão erguer uma estátua dele, prenunciando seus papéis na terra de Oz.
“Em Jogos Vorazes, quando Katniss e Peeta chegam ao Capitólio, Effie elogia suas maneiras à mesa, comentando com desgosto que os tributos passados não tinham boas maneiras e comiam com as mãos. Nesse ponto Katniss deixa cair o garfo, come com os dedos e os limpa na toalha da mesa, significando sua rebelião contra a Capital.”
Também ficamos sabendo que Katniss não é do tipo que perdoa e que ela lutará até o amargo fim pelo que ela percebe como justiça.
É prenunciada no desenvolvimento de seu personagem.
7. Relacionamento dos Personagens
Deixe as interações entre personagens apontar para uma certa conclusão, prenunciando eventos futuros.
Isso traz à mente o início de Matrix, quando o chefe idiota de Neo o ataca com força, acusando Neo de pensar que as regras não se aplicam a ele, que ele é especial, que deve fazer uma escolha.
Em Psicose, somos tratados com um prenúncio do verdadeiro relacionamento que Norman Bates tem com sua mãe quando garante a Marion Crane que sua mãe é “tão inofensiva quanto um daqueles pássaros empalhados”, referindo-se a um pouco de taxidermia.
O relacionamento de Batman e Coringa é prenunciado em Batman Begins quando o tenente Gordon mostra a ele uma carta de baralho deixada pela nova ameaça em Gotham City e diz:
“Veja esse cara — assalto à mão armada, duplo homicídio e gosto pelo teatro. Gostou de você. Deixou um cartão de visitas.”
“Em Jogos Vorazes, o amor feroz e a atitude protetora de Katniss em relação à irmã prenunciam seu voluntariado como tributo no lugar de Prim. E sabemos que Peeta colocará a segurança de Katniss antes da sua em todas as circunstâncias. Esse vínculo prenuncia o relacionamento que Katniss terá com os rebeldes, como um todo. Eles a protegerão até a morte.”
8. Detalhes Descartáveis
Detalhes jogados é quando seu personagem fala ou faz algo que parece inconsequente no momento, mas ganha maior significado em retrospectiva. Não é chamada muita atenção para isso, mas os leitores podem voltar a esse momento e dizer: “Aha! Agora eu entendi! Agora eu saquei!”
Isso é visto em Jogos Vorazes quando Peeta casualmente admite:
“Eu faço os bolos”, o que significa que ele faz a decoração do bolo na padaria da família. Isso prenuncia sua habilidade de camuflagem, que é útil mais tarde na história.
E depois há a observação de Katniss no início da história:
“As plantas são complicadas. Muitos são comestíveis, mas um bocado falso e você está morto.”
Isso prenuncia mais de um evento por vir, incluindo o momento culminante da baga.
9. Simbolismo
O Simbolismo pode prover um astuto e poderoso significado de foreshadow indireto. Você pode incluir algo em sua história que faça alusão a eventos futuros ou sugira o que pode acontecer de maneira indireta.
Quando Andy Dufresne acaba na prisão em The Shawshank Redemption, o diretor da prisão vem visitá-lo em sua cela. Ao ver a Bíblia de Andy, o diretor acena com a cabeça em aprovação, advertindo-o de que “a salvação está dentro”. No final do filme, descobrimos que a salvação de Andy realmente estava dentro, pois ele escavou as páginas do bom livro para esconder o martelo de pedra com o qual cavou seu túnel para a liberdade.
Há muito foreshadow simbólico em Jogos Vorazes.
Já mencionamos o broche de tordo e o pão que Peeta jogou para Katniss, significando seu sacrifício e sua sobrevivência. Mas há também o dente-de-leão que Katniss viu brotando por uma rachadura ao lado do pão queimado. Para ela, era um sinal de esperança, um bom presságio que significava que ela conseguiria.
Mais alguns exemplos incluem a Cornucópia cheia de bens valiosos, mas na realidade uma armadilha mortal. Como o próprio Capitólio. E a melodia Rue ensinou os tordos a significar o fim do dia. Essa música um dia significaria o fim do Capitólio.
10. Surpreendente mas Inevitável
Esse método envolve uma série de dicas sutis que o leitor pode ou não captar. De qualquer forma, após a ocorrência do evento previsto, eles podem voltar as páginas e ver os indicadores que o fizeram parecer surpreendente, mas inevitável. Como a arma de Chekhov.
No filme Tubarão, o chefe Brody tropeça em um tanque de mergulho a bordo do Orca e Hooper avisa que eles são combustíveis. Quint comenta:
“Sim, é um equipamento muito bom e caro que você trouxe aqui, Sr. Hooper. 'Claro, eu não sei o que aquele tubarão bastardo vai fazer com isso. Pode comer, suponho.”
Isso aponta um caminho lógico para a eventual destruição do tubarão.
Há uma cena em Jogos Vorazes onde Katniss tem que impressionar os Gamemakers, mas eles prestam pouca atenção, focados mais no banquete diante deles – incluindo um porco assado com uma maçã na boca. Enfurecida, ela envia uma flecha direto para a maçã, espetando-a contra a parede e prendendo a atenção deles.
Isso prenuncia uma cena posterior crucial, onde ela deve destruir as lojas de alimentos de seus rivais. Desta vez suas flechas lançam uma chuva inteira de maçãs, desencadeando uma série de explosivos, vaporizando o banquete.
Foreshadow é sobre configuração
Lembre-se, uma grande quantidade de foreshadows fica registrada no subconsciente do leitor. Algumas vezes, isso também acontece com o autor. Não desconsidere o poder do seu próprio subconsciente ao descrever um cenário ou desenvolver um relacionamento.
Isso é uma verdade para histórias curtas, romances, shows de TV, filmes ou até uma série como os livros de Harry Potter, que literalmente configura os principais pontos da trama para o livro sete no livro um.
Adicionar a técnica literária do foreshadow à sua caixa de ferramentas é importante para qualquer escritor que espera escrever enredos envolventes sem reviravoltas desagradavelmente convenientes.
Usar os dez métodos principais do foreshadow que vimos neste post, irá ajudar você a fazer exatamente isso.
Mas e aí? Falamos que o foreshadow é irmão do foreboding e vamos ficar sem falar desse outro membro da família? Claro que não!
FOREBODING. MAS QUE TIPO DE FORESHADOW É ESSE?
“Por que minha história está perdendo views?” É uma pergunta muito recorrente entre os autores de webnovels. Você talvez tenha se feito essa pergunta em algum momento…
Mas calma, seus problemas acabaram! Com o conhecimento que esse artigo lhes dará, desde que apliquem o que será passado aqui, não perderão mais pessoas. Ao contrário, há uma boa chance de ganharem ainda mais público.
O que é Foreboding?
Bem, a resposta para isso é simples. Já ouviram falar do termo Foreshadow? O Foreboding é o irmão menos conhecido dele, mas que é igualmente, ou até mais, importante.
Enquanto Foreshadow se preocupa em introduzir elementos que anunciam eventos futuros, dando dicas do que vai ocorrer, Foreboding é a arte de fazer esses elementos e eventos serem naturais através do sentimento de que algo não está certo, de que ainda há um conflito beirando o horizonte.
Em outras palavras, Foreboding é o que alimenta a tensão na história.
Quando devo usar Foreboding?
Antes de ensinar sobre como aplicar esse conceito, é melhor eu primeiro dizer quando vocês vão usar isso. Imaginem-se num bar, sentados à frente do garçom. Até aí tudo normal, mas quero que lembrem que, nesse exemplo, são policiais disfarçados, que acabaram de entrar no ramo de espionagem e ainda tem um forte senso de justiça.
Vocês estão esperando um contato, um mafioso que vai apresentar vocês para o Dom de uma família importante. Isso, por si só, já é uma situação interessante, mas… como fazemos para deixá-la ainda mais tensa?
Bem, vocês chegaram quinze minutos antes. Nesse meio tempo, muita coisa pode acontecer… De repente, vocês ouvem uma mulher gritar por socorro. Era uma das empregadas do bar. Ela estava sendo molestada, algo normal ali, devido à alta quantidade de criminosos presentes. Vocês olham o relógio: “Três minutos até a reunião”...
Não vou contar o resto da história, mas acho que entenderam o que eu fiz ali, não?
Essa é uma situação comum em filmes e livros, mas é interessante notar a curva de tensão da cena. Ela aumentou rapidamente graças a dois elementos: o tempo e a mulher.
“Mas onde isso responde a pergunta?” Bem, é como eu falei acima. É uma situação normal em livros e filmes, ao ponto de não haver tensão nenhuma durante a espera. O uso de Foreboding é essencial em momentos como esse, momentos em que se precisa chamar a atenção do leitor para algo.
Em outras palavras, sempre que você queira introduzir um evento que seguirá na história, pense em como pode fazer ele parecer o mais interessante e natural possível e, assim que sentir que está ficando chato, adicione um pouco de tensão.
Como usar Foreboding:
Após explicada a teoria, vamos para a prática. Trabalharemos com seis técnicas de Foreboding que qualquer um conseguirá usar ao final do artigo.
1. Deixe o Narrador revelar
Usamos uma instância narrativa para passar o sentimento de estranheza e choque para os leitores. Pode ser apenas uma frase normal, como: “Naquela noite de verão, convidei a assassina para minha casa”, ou até algo mais rebuscado, como um parágrafo inteiro com o único objetivo de criar tensão narrativa.
O que importa nessa técnica é que o narrador passe uma informação que ressoe bem com as outras, mas que seja chocante o suficiente para chamar a atenção imediata do leitor.
2. Segurar um espelho
Essa técnica é basicamente apresentar uma informação ou ato que será repetido mais para frente.
Nas palavras de Tchekhov: “Se tem uma arma numa cena, alguém vai ser baleado”. O que isso quer dizer? Se tem um elemento numa cena, ele deve ser usado mais para frente. Essa técnica leva esse conceito no literal, repetindo os elementos até o menor detalhe.
3. Descrição
Vou falar aqui e agora: não importa quem seja o leitor, ninguém é tonto o suficiente para não perceber a existência de uma descrição exagerada. Normalmente, usamos este elemento para descrever personagens e locais importantes, mas também é possível usar de léxico e figuras para dar um sentimento de sufoco, de que algo vai acontecer e que, quando acontecer, vão ter consequências.
4. Ironia dramática
Não ironicamente, é quando dizemos ao leitor uma coisa que o protagonista não sabe, demonstrando o contraste entre o que o personagem acredita e a realidade nua e crua.
Um exemplo é um personagem órfão que vai encontrar o pai biológico, sem saber que, na realidade, este era o homem que ele assaltou e matou algumas horas atrás.
Note que um narrador onisciente consegue facilmente levar esta informação para a audiência enquanto faz dos personagens verdadeiras peças de xadrez.
5. Ambiente precognitivo
Esta técnica é sutil e deve ser usada apenas por escritores experientes. Digamos que você comece uma cena com uma descrição do céu chuvoso, com nuvens que bloqueiam as estrelas e a densa mata é iluminada apenas pelos relâmpagos. Uma descrição dessas evoca um sentimento de medo, sufoco até.
Dessa forma, os leitores sabem, ainda que por instinto, que alguém vai lutar por sua vida. É uma forma de usar décadas, e até séculos, de storytelling enraizado na imaginação humana para ambientar eventos de forma que eles ressoem perfeitamente.
Simbologia
Esse é para os cultos, ou os que se acham cultos. Quando queremos evocar as emoções e reações mais profundas do ser humano, não há forma melhor — desde que você saiba o que está fazendo — do que usar símbolos e imagens que ressoem com tal coisa.
Foreboding é a introdução natural e definitiva do foreshadow, daquilo que nele foi premeditado.
Enquanto o foreshadow alerta sobre algo que ainda está para acontecer, o foreboding realiza a introdução desse elemento de forma que pareça natural e convincente para o leitor.
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