Introdução
Os termos hard e soft magic foram criados pelo autor de Mistborn, Brandan Senderson, com o intuito de classificar aspectos narrativos relacionados a magia, muito comuns em diversas obras.
Esses sistemas são recorrentemente usados em histórias para dar personalidade a elas e são uma ferramenta para mover a história. Em Mistborn, por exemplo, existe a Alomancia, um tipo de poder que é adquirido por meio da ingestão de metais, e dependendo do metal, a pessoa ganha um poder diferente.
A sociedade inteira do mundo de Mistborn é criada ao redor desse conceito, criando assim uma estética distópica em que as construções e o ambiente devem ser criados tendo em mente o que as pessoas desse mundo são capazes de realizar, além de demonstrar os impactos sociais causados pela existência dessa magia.
Pelo nome, hard e soft, podemos distinguir suas funções.
HardMagic
É quando nos referimos a um sistema de magia ou poderes que é bem explicado, com razões lógicas para existir e com influência direta no mundo ao redor, dando acontecimentos concretos e perfeitamente razoáveis de acordo com o que é apresentado imposto.
Vamos ao bom e velho FullMetal Alchemist, em que a magia atua de maneira igual a alquimia e tem como centro a Lei da Troca Equivalente, em que é dado algo em troca da realização da alquimia desde que tanto o que foi ofertado quanto o que é desejado possuam o mesmo valor; esse fato faz com que certas pessoas acreditem que a alquimia é algo profano e proibido, enquanto outros a tratam como ciência e buscam estudá-la para descobrir meios de se aproveitar mais de sua existência.
São casos como esse que vemos o hardmagic atuando mesmo quando não é usado, porque o que importa no final das contas é sua influência ocorre igualmente no mundo em que a história se passa e no próprio desenrolar do enredo.
Nós podemos assim identificar algumas peças centrais que compõe esse tipo de sistema, como:
Limitações
Até onde a magia consegue ir, seus limites e o que ela pode ou não pode fazer. As limitações tem como objetivo não deixar com que o sistema se expanda a coisas impossíveis, como apagar o sol ou esvaziar o oceano, tornando-o mais crível.
Previsibilidade
São definidas as capacidades e o que é necessário para ser feita,tornando seu resultado prevísivel, pois não há como fazer algo diferente do que o sistema permite se ele é supostamente formulaico.
Custo
O que é necessário para a magia ser feita. Tome como exemplo que uma pessoa precisa de uma energia X para produzir resultado Y, a energia X é o custo para que tal resultado seja produzido. O custo não é limitado a somente energia, podem ser outras coisas como componentes específicos e certas vezes o próprio cansaço físico do personagem pode ser levado em consideração.
Softmagic
Já aqui, a magia é considerada, literalmente, mágica, ela é uma ferramenta usada para criar misticismo e natureza fantástica na história, não abordando nenhuma especificação concreta e geralmente trabalhando como algo desconhecido na visão dos personagens.
Muitos acreditam que isso pode ser algo ruim de se ter numa obra, porém ela funciona muito bem quando o foco da história não é a magia. Em histórias, precisa-se ter um número de coisas para se focar, e como hardmagic ocupa um espaço muito grande nesses focos por ter um impacto gigantesco em todas as zonas — isto é, no mundo, enredo e nos próprios personagens. —, ele muitas vezes não é possível de se encaixar na trama, então o softmagic pode acabar sendo preferível.
Ela pode ter algumas características chaves, como:
Misticismo
O sistema não é compreensível de maneira alguma, ele é subjetivo e dá margem para filosofias e um entendimento abstrato, logo, os personagens podem ter contato com as artes místicas e por mais inteligentes que sejam, não encontram lógica naquilo.
Simplicidade
Por não possuir leis definidas, ele não precisa de nada tão complexo e dá muita liberdade para se produzir o que quiser em cima, abrindo possibilidades para produzir qualquer resultado desejado. (Exemplo: Black Clover)
Flexibilidade
Qualquer coisa pode acontecer com ele, logo, você pode arranjar janelas e espaços criativos para se usar a magia, evitando cair em partes que seriam impossíveis de se desenvolver pelo sistema já ser definido (Exemplo: Tongari Boushi no Atelier).
Qual devo escolher?
Ambos os sistemas possuam determinadas características, mas não quer dizer que devem seguir todas à risca. Um sistema softmagic pode não influenciar o mundo ao redor, mas ainda é parte fundamental de como a história funciona.
Um exemplo seria Black Clover. A magia existe, tal como uma grande dependência dela para quase tudo na vida das pessoas, incluindo em tarefas domésticas como lavar roupa, arar o solo e etc. Em nenhum momento na obra é dito algo sobre "pessoa X tem magia Y, aí vai acontecer isso e aquilo", o autor te dá apenas uma informação relevante sobre a magia: Aqueles com maior poder mágico são os amados pela mana e a nobreza. A partir disso temos a história que conhecemos.
Bem interessante, não é? Mas você deve estar se perguntando: Tá, mas por onde exatamente eu começo?? Essa é a primeira e a maior dúvida que surge na criação de um sistema de magia/poder, e na verdade é a mais fácil de responder.
Primeiro de tudo, o sistema vai ser soft ou hard? Qual seria mais viável e flexível para contar sua história? Com isso respondido, podemos iniciar uma série de perguntas que vão construir o sistema desejado, lembrando que, a depender do tipo escolhido (soft ou hard), algumas das perguntas não são necessárias.
Como guia, vamos nos fazer as seguintes perguntas: Qual a origem da magia? Quem pode usá-la? Como podemos invocá-la? O que ela não pode fazer? A partir disso conseguimos infinitas respostas, listamos algumas delas para te ajudar a escolher ou criar as suas próprias.
Qual a origem?
Magia provinda de deuses; (Shuumatsu no Walkure)
Magia como energia vital; (Ki, de Dragon Ball)
Magia é uma energia conectada a tudo; (Spin, de Jojo Stell Ball Run)
Magia provinda de outra dimensão. (Obras de Portais em geral)
Quem pode usá-la?
Todo mundo?
Quase todo mundo?
Raças específicas?
Estudiosos?
Como invocá-la?
Gestos;
Runas;
Rituais;
Símbolos;
Força de vontade;
Movimentos;
Ordens vocais.
O que ela não pode fazer?
Regras que proíbem seu uso;
Locais e objetos que a anulam;
Propriedades ganhas no uso da magia;
Limites.
E se, por algum acaso, o meu sistema de magia ter todas as origens e formas de invocação acima descritas?