Por STEPHANIE ORGES e traduzido por Brinn.
Existem narradores de todos os tipos — indo muito além da simples primeira ou terceira pessoa. Isso aqui é um pequeno estudo sobre esses diferentes tipos.
Primeira Pessoa
1. O Protagonista
Da forma mais direta possível, essa é a história narrada pelo próprio herói. A narração é feita da mesma forma que ele fala, porém com mais descrições e, talvez, com uma gramática um pouco melhor. O leitor fica a par de todos os seus pensamentos e opiniões, o que significa que conhecemos o herói mais rápido e, no geral, também nos identificamos com ele mais facilmente.
Exemplo:
“… pego na pena no ano da graça de 17..., e volto ao tempo em que o meu pai tinha a hospedaria “Almirante Benbow”: e ao dia em que sob o nosso teto se alojou o velho marinheiro de face queimada e marcada por um golpe de sabre.”
Jim Hawkins em “A Ilha do Tesouro”, por Robert Louis Stevenson
1. O Personagem Secundário
Alguém próximo do protagonista, mas que não é o herói principal. As mesmas coisas do tipo anterior se aplicam nesse caso, porém, o foco da história se distancia do narrador.
Exemplo:
— Dr. Watson, sr. Sherlock Holmes — disse Stamford, apresentando-nos. — Como está? — disse ele cordialmente, apertando-me a mão com uma força de que não o julgaria capaz. — Vejo que andou pelo Afeganistão. — Como sabe? — perguntei-lhe, atônito. — Isso não vem ao caso — disse com um risinho.
Watson em “Um Estudo em Vermelho”, por Sir Arthur Conan Doyle
Terceira Pessoa
Terceira pessoa onisciente
Esse é o tipo que sabe de tudo, espiando as vidas dos personagens principais e secundários, e lendo seus pensamentos. Isso permite que o escritor explore múltiplas facetas da sua história com mais profundidade. Como, por exemplo, na trilogia Coração de Tinta de Cornelia Funke.
Terceira pessoa limitada
Esse tipo só sabe o que o personagem, ou os personagens principais sabem. Isso restringe mais o autor, porém, aumenta o suspense e as intrigas, porque assim o leitor resolve os mistérios ao mesmo tempo que os personagens. Um bom exemplo disso é 1984, de George Orwell.
Os tipos a seguir podem cair tanto em onisciente, quanto em limitado:
3. O Observador Distante
Um narrador em terceira pessoa distante se concentra em contar a história e nunca insere suas próprias opiniões nela — nunca deixa escapar um “eu” ou “me” com exceção dos diálogos. Você provavelmente nem perceberá a sua voz. É meio inútil colocar um trecho com algo que um escritor não fez, mas 1984, de George Orwell é de novo, um bom exemplo.
4. O Comentarista
Esse tipo nunca entra fisicamente na história, mas adiciona livremente seus próprios comentários pessoais. Permite a existência de uma voz, sem a complicação de ter que usar um personagem já existente.
Exemplo:
“As cortinas de sua cama foram puxadas, posso lhes garantir, por uma mão. Não as que estavam aos seus pés, nem às suas costas, mas aquelas para as quais seu rosto estava virado. Scrooge, erguendo-se abruptamente, viu-se cara a cara com o visitante do outro mundo; tão perto dele quanto estou, em espírito, sobre o ombro de vocês, neste momento.”
“Um Conto de Natal”, por Charles Dickens
Um Meio Termo
Ou talvez, o narrador não seja exatamente uma “terceira pessoa” e esteja envolvido na história de alguma forma.
5. O Entrevistador
Esse tipo coletou os detalhes da história depois de ela já ter acontecido, como se tivesse entrevistado os personagens. Isso dá uma sensação de realidade à história.
Exemplo:
Trouxe-lhes ao mesmo tempo um aroma e um som musical. Edmundo e Eustáquio nunca mais quiseram tocar no assunto. Lúcia apenas podia articular: — Era de cortar o coração. — Por quê? — perguntei eu. — Era assim tão triste? — Triste nada!
“A Viagem do Peregrino da Alvorada”, por C.S. Lewis
6. O Personagem Secreto
Às vezes, o narrador apenas finge não fazer parte da história — eles podem se referir a si mesmos em terceira pessoa até o fim, mas uma hora ou outra são mencionados por outros personagens ou é revelado que na verdade são um dos personagens principais ou talvez até mesmo o vilão, na forma de um agradável plot-twist a mais.
Exemplo:
— Lemony? — repetiu Violet. — Eles teriam me chamado de Lemony? De onde tiraram essa ideia? — De alguém que morreu, presumivelmente — disse Klaus.
“O Fim”, por Lemony Snicket
7. O Narrador Não Confiável
Costuma ser usado em primeira pessoa, mas às vezes também pode aparecer em terceira, o narrador não confiável possui um ponto de vista falho. Ou seja, o escritor intencionalmente o faz enviesado, mal informado, insano, etc. Alguns exemplos incluem Nelly em O Morro dos Ventos Uivantes, por Emily Brontë, ou Holden Caulfield em O Apanhador no Campo de Centeio, por J. D. Salinger. Aqui há um de Poe.
Exemplo:
“Se persistirem ainda em supor-me louco, essa suposição evaporar-se-á ao descrever-lhes as inteligentíssimas precauções que tomei para ocultar o cadáver. A noite avançava; comecei, pois, a trabalhar apressadamente, mas em silêncio.”
“O Coração Delator”, por Edgar Allen Poe
Alguns desses — como o Narrador Não Confiável — possuem nomenclaturas já estabelecidas, enquanto outros eu mesma criei.
Você consegue pensar em algum outro tipo? Que tipo você tem usado atualmente?
Além disso, não esqueça que há muitos outros tipos de narradores do que apenas esses setes citados.
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