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  • Coerência Textual

    O que é coerência textual? “Ela, matou, pegou, Makima, chão”. Você entendeu algo nessa frase? Provavelmente, não, afinal são apenas palavras jogadas, sem uma linha lógica que as guie, mesmo que cada palavra individualmente carregue um significado, o conjunto delas não o tem. Ou seja, faltou o que chamamos de coerência textual. De forma mais formal, a coerência textual pode ser definida como: a conexão lógica e harmoniosa entre as ideias, frases e parágrafos em um texto, de forma a criar um sentido lógico. Responsável por dar sentido ao texto, a coerência é o fenômeno de estabelecer micro e macro relações lógicas no seu texto, de forma a fazer com que as novas ideias apresentadas complementem as ideias passadas, sem se contradizer. Assim, mesmo uma ideia ou frase aparentemente sem sentido quando analisada sozinha, pode ganhar um significado, se o contexto no qual ela se insere for coerente, por exemplo: “Leonardo e Letícia estavam jogando Mario Bros, quando a luz caiu. Sem opções para se entreterem, decidiram jogar um jogo sobre criar histórias. Funcionaria da seguinte forma, eles escreveram várias palavras aleatórias em pequenos pedaços, então um dos dois sortearia 5 palavras, já o outro teria que formular uma pequena história conectando as 5. — Ela, matou, pegou, Makima, chão — Leonardo leu com dificuldades as palavras escritas com a péssima letra da Letícia.” Assim, evidencia-se que a coerência é o que dá sentido à mensagem, por conseguinte a falta dela é o que torna um texto sem sentido. Por isso, para além de organizar os componentes linguísticos corretamente; é necessário estabelecer um contexto que una as ideias de forma lógica. Ou seja, além de estruturar uma frase corretamente do ponto de vista gramatical e sintático, ela também precisa estar dentro de uma lógica e precisa guiar o texto de acordo com isso. Em resumo, a coerência textual é o alicerce que sustenta a compreensibilidade de um texto, garantindo que as ideias se conectem de maneira fluida e lógica. Agora, para entender melhor como fazer isso, podemos dividir a coerência textual em algumas subseções. Como fazer um texto coerente? A não contradição. Para que um texto se faça coerente, ele precisa ter dentro de si conexões lógicas, ou seja, não deve apresentar contradições entre as próprias informações escritas nele. Portanto, é incoerente a frase: “Anne, no auge dos seus 24 anos, caminhava sem rumo, devastada por falhar em mais uma entrevista de emprego. Ao passar por um bar, desejou poder afogar as mágoas no álcool, mas ela ainda era menor de idade.” Dizer que uma personagem de 24 e chamá-la de menor de idade, são informações que se contradizem, dado o contexto padrão que a pessoa terá em sua própria cabeça, no caso, o mundo real. Claro, a frase voltaria a conter coerência, se fosse apresentado um contexto de um mundo onde a bebida alcoólica só pode ser vendida para maiores de 25. Nesse caso, a incoerência se faz bastante óbvia, correto? De fato, é incomum que um autor se contradiga dessa forma em um mesmo parágrafo, mas ao longo de uma história, principalmente uma muito longa, certas regras e informações apresentadas podem ser esquecidas. Ou o autor pode simplesmente perder o controle da obra, de forma que informações apresentadas anteriormente precisam ser ignoradas ou contraditas, para que ele seja capaz de mover a obra adiante. Nesse sentido, quanto maior o escopo e complexidade de um roteiro, mais é necessário cuidado com a coerência do texto no longo prazo. Principalmente quando falamos de mundos de fantasia, que quando mal pensados, podem acumular contradições ao ponto disso ser gritante. Outro motivo para contradição comum, é o descuido com descrições, em particular do cenário. Não é incomum encontrar textos amadores, onde o autor descreve o clima como sendo frio e, alguns capítulos depois, esquece isso e descreve um campo florido de primavera. O que é bastante comum quando se posta capítulo a capítulo, sem haver uma revisão da obra como um todo antes de postá-la, por isso tome cuidado. Também vale lembrar, que as ações das personagens também têm de ser coerentes, ainda que nesse caso, cada pessoa tem uma lógica interna própria, o que comporta contradições, contanto que a lógica interna da sua personagem seja bem pensada e se mantenha ao longo do texto. Ou seja, um personagem tridimensional pode e deve ter atitudes aparentemente contraditórias, mas a falha em encaixar todas essas peças corretamente, te deixará no fim com um personagem mal escrito. Além disso, obviamente personagens unidimensionais não devem apresentar essas contradições. Os tipos de coerência → Coerência sintática Um texto coerente do ponto de vista sintático, é aquele em que os elementos de uma oração são ordenados respeitando sua função e sentido, o que evita ambiguidade e mau uso de conectivos. Um exemplo seria uma frase escrita assim: “quando voltamos para loja, que o Marcos trabalha, não havia ninguém trabalhando”. Nesse caso, o pronome “que” está incorreto, pois ele é usado para retomar uma ideia anterior, mas não há o que ser retomado. O correto seria usar “em que” trazendo uma relação locacional entre as orações. → Coerência semântica As palavras carregam um significado e informações intrínsecas a elas e, para que haja um sentido na frase, ela não pode contradizer isso. Por exemplo, soa estranho dizer: “O jacaré voou para bem longe.” Jacarés não voam e as pessoas sabem disso, por isso a frase por si só não tem sentido. Claro, com um contexto próprio, o signo jacaré pode ganhar informações a mais, que deem sentido para essa frase, como sempre a coerência depende do contexto. → Coerência temática Refere-se a sequência temática dentro de um texto, ou seja, deve haver uma sequência lógica entre os assuntos abordados. Começar falando sobre o clima e, de repente, explicar sobre o estômago retrátil que as estrelas do mar usar para defesa, não faz sentido e é incoerente. → Coerência estilística Todo texto tem uma estilística própria, que está sujeita a vontade do autor, ao contexto comunicativo e a intenção do texto. Assim, é incoerente adotar uma estilística informal, se o texto estiver num contexto formal. Ou seja, seria estranho fazer uma personagem que se apresenta de forma muito formal e “certinha”, falando de forma extremamente coloquial, principalmente quando se comunicando com outra pessoa “certinha”. Da mesma forma, é incoerente adotar uma estilística voltada para o terror, se a intenção da obra for criar uma cena leve.

  • Diferenças entre os Gêneros Literários e Ficcionais

    Não são poucas vezes que vi, aqui na Novel Brasil, tutorandos e iniciantes no nicho de escrita confundindo esses dois termos que começam com “gênero”. Nessas situações, eu paro e penso: Por que eles focam tanto na primeira palavra e ignoram a segunda? Há certos desafios que forçam um professor e tutor a ignorar o resultado incorreto da conta e atacar o cálculo, a raiz, para resolver o que causa essa confusão. O comum é sempre trocarem o ficcional pelo literário, ou que só conhecem um e nem fazem ideia de que o outro existe. Então, para isso, que estarei criando esse artigo nada-curtinho para acabar com mais um dos desafios dos tutorandos na Classe F da NB. Aviso: Esse artigo repetirá muitas vezes o termo principal, invés de usar os variantes, para evitar maiores confusões. Então não estranhem a repetição contínua de “gênero isso” e “gênero aquilo”. Os Gêneros Ficcionais Vamos, então, começar com o mais tranquilinho, que é o gênero ficcional, mas segura aí, antes de falarmos sobre o que ele é, que tal sabermos o significado ou história por trás de “ficção”? A ficção é mais antiga que a própria literatura, uma vez que a ficção é tudo o que é imaginário, que foge da própria realidade. Podemos colocar da forma que, desde que o ser humano sentou em volta da fogueira para contar uma história da luta contra um animal imenso nunca antes visto até os efeitos especiais do cinema de hoje em dia, a ficção é esse mundo que só a nossa mente pode alcançar. Então, sabendo disso, o gênero ficcional, também conhecido por: gênero de ficção, fórmula de ficção e até mesmo ficção popular; é um termo usado no comércio de livros para obras de ficção escritas com a intenção de se enquadrar em um gênero literário específico, a fim de atrair leitores e fãs já familiarizados com uma convenção de coisas específicas. Que convenção é essa? Bem, colem comigo sobre a ficção científica. Uma coisa é você ler Frankenstein e outra é ler A Guerra dos Mundos ou ver Star Wars, ok? Todas elas são ficções científicas, mas seus subgêneros de ficção são bem diferentes, uma é sobre a velha ciência alcançar o feito de reviver um ser montado de cadáveres, outra é sobre alienígenas invasores na Terra e a última, que nem se passa na Terra, é uma guerra numa galáxia com outros alienígenas, naves e robôs. Isso são convenções dentro da ficção científica que criou seus subgêneros ficcionais: Ficção científica gótica (Frankenstein), Invasão alienígena (A Guerra dos Mundos) e Space Opera / Ópera Espacial (Star Wars). Assim como para com a fantasia — que podemos ter a fantasia científica, fantasia urbana, fantasia sombria, alta/baixa fantasia, e tantas outras milhares —, todos gêneros que criam e replicam convenções acabam por criar subgêneros novos. Por exemplo, o que já foi citado nesse parágrafo, muitas histórias de fantasias escritas num ambiente de cidade moderna criaram o subgênero fantasia urbana. Para facilitar uma conclusão, basta entender que gênero de ficção é aquilo que todos nós buscamos saber do que se trata o filme/livro quando perguntamos o “gênero”: ação, fantasia, terror, sci-fi, histórico, paranormal, realista, infantil, adulto, romance, criminal, e por aí segue infinitamente com os subgêneros de ficção. Se quiser coisas mais específicas ainda, recomendo ler o glossário de termos de escrita, lá é recheado dos gêneros e subgêneros mais únicos. É bom também ver que, assim como tem gêneros de ficção, há também os gêneros de não-ficção. A não-ficção visa apresentar eventos e informações reais com maior precisão possível, enquanto a ficção é tudo que é imaginário. Embora muitos livros de não-ficção ainda sejam sobre histórias, são muitas vezes dedicados a informar os leitores dos fatos. Aí nesses livros teremos alguns gêneros de não-ficção, como: biografia, autobiografia, história, viagem, filosofia, memórias, autoajuda, desenvolvimento pessoal, religião, e ensinos como ciência, arte, psicologia, etc.; sério, tem muitos. Para complementar ainda mais ao tópico do gênero ficcional, há o termo que a indústria e sites usam muito que são as “tags”, também traduzido como “categoria de gênero”. Não é propriamente um gênero, mas uma pequena parte dentro de um (sub)gênero de ficção, por isso “tag”. Exemplo de tag: “protagonista homem” / “protagonista mulher” ou “vingança” / “viagem no tempo”. Cada um desses exemplos não é um gênero nem subgênero de ficção, mas pode estar incluído dentro de um, como o caso de fantasias com uma protagonista mulher que volta no tempo para se vingar. Há um subgênero da fantasia definido para esse tipo de história? Não no ocidente — até onde eu saiba — mas há o gênero que chamam de Nidome no Japão que encaixa perfeitamente no caso, sendo majoritariamente feito em cima de obras de fantasia. Aperte na imagem para uma melhor visualização. Os Gêneros Literários Com isso dito, espero que nunca mais errem o nome, porque agora vem o bicho brabo. O gênero literário é uma categoria de composição literária, e é aqui que o povo confunde tanto. Claro, com o que foi dito anteriormente, ficou claro o termo correto, mas a problemática de pessoas se enganarem com “gênero” ainda permanece. A palavra gênero é uma categorização — um tipo de alguma coisa, no caso. Gênero de ficção é uma categorização de coisas dentro de uma ficção; gênero literário é a categorização de alguma coisa literária (de algo escrito). Pode parecer que ambas coisas são a mesma, mas não são — elas se interligam, se tocam, mas não são a mesma coisa. Para existir uma ficção, não precisa fazer parte de algo escrito, assim como um filme que pode ser reduzido em “filme de mitologia”, ou mesmo um sonho ou um pensamento do tipo: “sonhei que estava na guerra; imagina ser o maior soldado que já se viu”. A ficção pode ser escrita, mas não é sempre necessariamente, já a literatura é sempre escrita. O gênero literário está muito atrelado ao formato da obra, não tanto ao conteúdo, mas sim ao molde que é feito e que podemos analisar sobre aquele produto escrito. Enquanto o gênero ficcional se atrela a forma como podemos resumir o conteúdo de um livro/filme, o gênero literário está ancorado em como o livro foi escrito: com prosa ou poesia, talvez os dois juntos ou mistura dessas técnicas; é narrado em perspectiva ou busca uma reflexão através da voz do “eu” lírico, talvez nenhum dos dois, como é no caso dos textos teatrais. São essas coisas que vão nos dizer o gênero literário da obra. No caso, encontraremos apenas três (alguns diriam quatro, contando o argumentativo) gêneros: o lírico, o dramático e o épico-narrativo. Os dois primeiros serão breves, uma vez que não é o objetivo da Novel Brasil. O gênero literário lírico, ou apenas gênero lírico, trata-se das obras escritas em poesia, ou seja, os poemas. Para termos de comparação, a poesia é o que a prosa é para nós, o formato e a técnica de escrita. Na poesia, versos são cada uma das linhas que compõem um poema; quando montamos um bloco de versos, cria-se uma estrofe, o que para nós, prosadores, seria o equivalente a um parágrafo. Exemplo: O Deus-Verme de: Augusto dos Anjos (1º verso) Fator universal do transformismo. (2º verso) Filho da teleológica matéria, (3º verso) Na superabundância ou na miséria, (4º verso) Verme - é o seu nome obscuro de batismo. (1ª estrofe) Jamais emprega o acérrimo exorcismo Em sua diária ocupação funérea, E vive em contubérnio com a bactéria, Livre das roupas do antropomorfismo. (2ª estrofe) Almoça a podridão das drupas agras, Janta hidrópicos, rói vísceras magras E dos defuntos novos incha a mão... (3ª estrofe) Ah! Para ele é que a carne podre fica, E no inventário da matéria rica Cabe aos seus filhos a maior porção! (4ª estrofe) Como o objetivo aqui não é explicar sobre rimas, versificação, dos nomes das estrofes por quantia de versos, metrificação, etc., foquemos no que essa técnica resulta quando vira uma obra literária. Uma obra no gênero lírico acaba criando subgêneros dependendo do seu conteúdo: poema, canção (a letra de uma música é escrita em poesia), um livro de poesias, ode, elegia, epitalâmio; e os nomes complicados continuam... Esse gênero explora muito a musicalidade das palavras (não sendo à toa o motivo de ser assim que compõe as canções), as emoções e os sentimentos. Pode ser bem-vindo também ressaltar que a poesia acaba também “invadindo” outros gêneros literários, criando assim novos subgêneros que aparecem em todos gêneros literários: poesia épica (epopeia [guarde esse nome]) e a poesia dramática. No caso do gênero dramático, já se produz outras categorias de obras literárias. São textos escritos para encenações, performances de atores e/ou cantores. Você pode até ficar curioso sobre a técnica que esse querido usa para ser escrito, mas basta pensar um pouco que já chega na resposta: os dois, ou um só. Se o objetivo é apenas encenar, sem a parte musical, a prosa é o suficiente. Se for totalmente um musical, a poesia será a escolha. Mas se for uma obra que é tanto encenar quanto cantar? Os dois juntos. Aperte na imagem para uma melhor visualização. Então alguns podem ficar confusos como que pode usar as duas técnicas e não ser um dos dois ou ser apenas um. Isso porque não é só a técnica (prosa/poesia) que define o gênero literário, mas também a intenção do material. Fica claro que a canção é para ser encenada, assim como os diálogos (discursos diretos) são imediáticos de quem encenará. A lírica busca expressar musicalidade, emoções e sentimentos por meio da perspectiva do “eu” lírico/poético. Ela representa o resultado gerado pelo pensamento inicial que influencia a mente humana, dispensando a necessidade de personagens, um mundo ou tempo específico. Em contrapartida, o texto dramático se distingue de uma narrativa convencional ao incorporar recursos que são escritos para serem dados à vida no palco. A encenação, a coreografia, o figurino, entre outros elementos, convergem para transmitir mensagens ao público de maneira viva, sem a necessidade das palavras. Mas e o que ainda não falamos? O gênero literário épico-narrativo, ou apenas gênero narrativo, é o que mais nos interessa, romancistas e noveleiros de plantão. Comecemos, então, pela parte que é mais difícil de entender se você está vendo pela primeira vez — o significado de “épico-narrativo”, ou melhor, a história por trás. A primeira palavra “Épico” é advinda de um subgênero lírico, a poesia épica (epopeia); no entanto, o que ele tem de tão diferente que conseguiu criar um novo gênero literário? Bem, não é exatamente o que ele tem de especial, mas o que ele busca tratar como poesia. Épicos, antigamente, eram histórias heroicas, centradas sobre grandes aventuras, feitos e ações de personagens magnânimos em algum ponto da história, por mais que não fosse de fato a representação real do nosso mundo. Para um bom entendedor, meia palavra basta, né? Se subirem e olharem como a lírica é descrita, verão que a poesia épica tinha um caminho muito diferente do que é normalmente esperado da poesia. Ela contava uma narrativa, dessa forma, muitas pessoas viam nas epopeias um novo propósito. Ao mesmo tempo que isso ocorria, a prosa ganhava mais força entre o povão comum, já que a poesia era ensinada apenas para a elite. Bem, como é uma longa história essa parte da prosa vs. poesia (e que ficaria melhor em um artigo próprio), só saibam que, em resumo, basicamente a elite gritava poesia e fazia seus floreios com as palavras, enquanto o povão queria só saber das informações de uma vez, sem firula e joguetes de sentidos. Bem, como já deu para ver, a prosa virou a técnica padrão de escrita mais conhecida no mundo ocidental, enquanto a poesia continuou sendo para os “eruditos”. Claro, isso não foi de um dia para o outro, mas uns bons séculos contando histórias e escrevendo-as. Portanto, o que significa “épico”, além de “algo foda”? Bem, é meio bobo dizer, mas é o propósito das obras épicas: serem narradas… Ou seja, épico = narrativo. Hoje em dia é comum sabermos que as histórias que lemos vão ter: personagens, um mundo com sua própria história e um narrador; mas a poesia, que era a forma mais antiga de passar uma história, não tinha esse propósito, dessa forma, temos a criação do gênero narrativo. Logo, todas obras nesse gênero são trabalhos com propósito de acompanhar personagens, num enredo, dentro de um espaço e tempo únicos e com um narrador para focar em coisas específicas. Como a palavra “épico” ficou meio datada para os valores atuais, a melhor forma de nos ligarmos ao gênero é com a palavra “narrativo”, que tem o mesmo valor, mas com ideal diferente, e também podemos evitar a confusão com epopeias por aí. Depois que as epopeias começaram a serem escritas por prosa, acabou que esse subgênero literário ficou atrelado ao lado da lírica e narrativo, mas conseguiu criar diferenças marcantes e com distintas produções com esse objetivo de acompanharmos personagens. Os subgêneros literários que foram se criando foram as prosas curtas, que são os microcontos, minicontos, contos, já as obras com uma prosa de proporção maior seriam as noveletas, novelas e romances (novels). Vou evitar me aprofundar muito nos subgêneros narrativos do romance, mas, acreditem, são demais. Tem um artigo que fiz sobre a prosa de novel, onde eu falo melhor do nascimento do subgênero literário romance e o que se tornou nos dias atuais. Uma forma de exemplificar o que vou falar sobre isso de “modificar o molde de um subgênero literário convencional — no caso, romance/conto/novela — , é o exemplo abaixo, mas recomendo que leia o artigo acima para uma melhor compreensão. “Sou um escritor, produzi uma obra em prosa (escrita linha a linha), e ela passou de 45 mil palavras, se encaixando como um romance… O mundo é construído pela ambientação do século 18, num cenário que busca o medo, a ameaça, desolação, com eventos paranormais, digno de edifícios em ruína, ainda remarcados da Idade Média. Teremos mais do que um narrador, para recontar velhos mitos e um para acompanhar o protagonista, um padre que busca a verdade pelos casos do desaparecimento de órfãos, atormentado pelos seus próprios traumas.” Não é um exemplo muito honesto, mas funciona. Vejam que eu, já no exemplo, defino que é um romance, pelo padrão comum do subgênero literário, mas para encaixar em um tipo de romance específico, eu preciso analisar padrões comuns: o tipo de enredo, narrador e a forma de tratar os personagens. Com isso visto, consigo verificar o subgênero narrativo correto desse romance, que seria o romance gótico. Para ser mais específico ainda, se passasse com características de um país, digamos que a frança, então podemos chamar de romance gótico francês? Depende. Depende de como esses romances góticos franceses tratam também dos mesmos assuntos de enredo, tempo-espaço, personagem e narrador. E se o exemplo fosse sobre uma obra em prosa que tem o tamanho de um conto, então seria a mesma coisa para ele, encaixando como um conto gótico. Quanto mais características puxar de algumas obras, mais direcionado a uma caixinha específica será. É assim que funcionam os subgênero literários, ou para esse caso das caixinhas, os subgêneros narrativos. “Ah, mas não dá para inovar? Tipo, colocar alienígenas interdimensionais nesse conto gótico aí.” Claro que sim. Você pode acabar criando seu próprio subgênero, como seria o caso do H.P Lovecraft, com o seu terror cósmico. Aperte na imagem para uma melhor visualização. Repeteco final Então, para concluirmos a separação, a diferença entre gênero literário e o gênero ficcional é: Gênero literário é formulaico, ou seja, segue padrões e um molde comum, como a técnica escrita e o propósito do trabalho. Por exemplo, o narrativo vai usar a técnica de escrita da prosa e o propósito é contar uma história de um (ou mais) personagem(ns) num mundo através de um narrador. Quando esse produto se estende ou é minimizado cria-se algo entre: conto, novela ou romance. Se há características padrões de um autor sobre um desses subgêneros, então cria-se um conto (subgênero narrativo X), novela (subgênero narrativo Y) ou um romance (subgênero narrativo Z), como dito do romance gótico acima. Gênero ficcional é de cunho comercial, para brevidade de resumir uma obra ao público; normalmente são as características encontradas dentro do enredo, das quais podem ser das mais comuns, — como qualquer tipo de obra ter um protagonista homem — até para coisas mais complexas e únicas — ter um mundo de fantasia e lá haver resquícios de um passado ultratecnológico ou alienígena. Exemplo: o gênero ficcional do romance (esse aqui não é o subgênero literário, viu), que há subgênero como o do harém, slowburn ou adulto. O uso comum de gêneros ficcionais em romances/novelas/contos pode gerar subgêneros literários, ou mais especificamente, gerar gêneros narrativos? Sim. Lembrem-se que o primeiro (gênero literário) é para a demarcação dos produtos de um escritor, enquanto o segundo (gênero ficcional) é do comércio de livros, dedicado ao público. Elas são ligadas, mas não são a mesma coisa. O gênero ficcional do isekai, até alguns anos atrás, era apenas uma característica de uma obra, não o foco dela, mas acabou sendo replicada tantas vezes em diferentes produções que hoje em dia é possível encontrar até a categorização como subgênero narrativo do romance: “romances isekai”. Então, queridos escritores, eu, Rose Kethen, espero que tenham aprendido a diferença e que nunca mais errem isso!, senão vai dar ruim para vocês na tutoria!

  • Organize seu tempo! – Saiba o que não pode faltar na sua rotina de escritor(a)

    Ao longo dos meus anos de aprendizado de escrita, houve momentos em que, devido a situações externas, fui me distanciando do ato de escrever e me aproximando do ócio e da frustração que era não conseguir fazer aquilo que eu mais gostava. Procurei em vários artigos de escrita e materiais de estudo, mas nenhum deles falava sobre o problema que eu estava enfrentando e tampouco me ensinavam a como sair dela. Quando estava prestes a aceitar que o problema era eu, uma discussão em um servidor de escrita me fez perceber que havia mais pessoas sofrendo do mesmo mal que o meu e que existia um tópico no ramo da escrita que ninguém nunca explorou — ou que era pouco comentado. Foi então que abandonei a pressão, que coloquei em mim mesmo, de me especializar em um ramo da narrativa para me dedicar a algo novo, que posteriormente teria conhecimento de que se tratava de algo chamado pré-escrita. Ela engloba tudo o que um escritor faz antes de iniciar o primeiro rascunho, e isso leva a determinar o tema pretendido, organizar os Plot Points e estabelecer personagens. O primeiro estágio do processo de escrever geralmente envolve o brainstorming, o planejamento, o mapeamento, a pesquisa e o esboço. No entanto as pessoas costumam pular a etapa mais importante: o planejamento. Você precisa organizar o seu tempo e espaço, e por isso, neste artigo, nós falaremos sobre rotina e espaço adequados para escrever. O lugar perfeito para mim é nos jardins de um castelo japonês ao pé do Monte Fuji, usando quimono, sentado aos pés de uma sakura, com um bom matcha, escutando Música Tradicional do Japão em loop… Bem, eu nunca estive em um lugar como esse, o que me faz pensar que não vale a pena perder tempo procurando pelo lugar perfeito… até porque ele não existe. Existe, no entanto, lugares “impossíveis” de se escrever. Já escrevi em ônibus, carros, durante as aulas — não recomendo, desculpe-me professores… — e posso te dizer que o pior lugar para se escrever… é dentro de casa. Para um lar se transformar em uma prisão, basta um problema. Pais em processo de separação, brigas entre familiares, um ente querido com a saúde debilitada… enfim, situações assim vão te deixar tão pra baixo que você não vai sentir vontade de escrever — ou sequer fazer algo. Por isso, em casos desse tipo, recomendo que você saia de casa para escrever em um lugar mais afastado de onde você mora e mais tranquilo, como um parque, uma praça, uma cafeteria, etc. A ausência do convívio com aquele problema vai te fazer esquecer dele por um certo momento. Porém, caso você esteja passando por nenhum problema em casa, o ideal seria você evitar cômodos onde você costuma passar a maior parte do tempo, como o seu quarto ou o sofá da sala de estar. Tente escrever em uma parte de sua moradia que seja confortável e que você passa pouco — ou nenhum — tempo nela, como uma sacada — caso você more em um apartamento — uma varanda, um quintal, a mesa da cozinha — fora dos horários de refeição, claro — etc. Assim, sempre que você for nesses lugares, seu cérebro vai assimilar eles com a atividade de escrever. E, por fim, caso você se sinta confortável em casa e no seu quarto, e não tem outro lugar para ir, então lhe recomendo duas coisas: evite escrever sentado na cama e escreva em uma escrivaninha no canto do seu cômodo. Um serve para dormir e vadiar, enquanto o outro, para trabalhar e ser proativo. Dito tudo isso, o lugar adequado para escrever deve ser calmo e com o mínimo de distrações. O ideal é que você tenha uma mesa para escrever de forma confortável, mas, na verdade, qualquer lugar serve. Acostume-se; dias ruins, sempre cheios de imprevistos e surpresas desagradáveis, acontecem. Você pode acordar com o pé esquerdo, levar um bolo do(a) muso(a) inspirador(a), ter uma crise de enxaqueca, enfim, coisas terríveis podem acontecer, e nem sempre você vai querer escrever. Isso é normal. Nesses dias, você terá 2 opções viáveis: se forçar a escrever ou escrever menos que o planejado, mas o importante é não ceder facilmente e não se acostumar com esses dias ruins, como se você estivesse torcendo para que eles acontecessem e você tenha uma boa desculpa para não poder escrever. Portanto, na dúvida, escreva um pouquinho, mas escreva. Quando estiver em um dia desses, exercícios de escrita são úteis para o combate e prevenção de bloqueios criativos. Nos servidores da Novel Brasil, contamos com dois eventos diários: o escrita criativa e o rinha de escrita. Cada um deles vai além de preparar os seus músculos da escrita e desenvolver o seu estilo. O escrita criativa consiste na capacidade de elaborar um texto interessante, fugindo do óbvio, que segure o leitor até o fim e ainda o deixe satisfeito com os minutos gastos na leitura. Isso é sinônimo de fugir de formas engessadas e apostar em analogias, nas figuras de linguagem e em uma história cativante. Em contrapartida, writing prompts, ou "propostas de escrita", são pequenas descrições que propõem uma história a partir de requisitos próprios. Em outras palavras, a rinha de escrita te desafia a escrever uma história a partir de descrições inusitadas e criativas. Por exemplo: — Você deveria ter atirado duas vezes. Trata-se de uma proposta de diálogo, mas você é livre para escrever a história que quiser — desde que tenha relação com a proposta. As writing prompts vão além da sua zona de conforto, colocando a sua criatividade ao limite. Além disso, é uma boa oportunidade para experimentar novas vozes e ver o que mais combina com o seu estilo. Como inserir a escrita na rotina? Isso logicamente vai depender de como é o seu dia. Se você tem 5 irmãos pequenos, se dorme a tarde inteira, enfim, tudo isso deve ser manejado para que a escrita se encaixe em pelo menos dez minutos do seu dia. Pode ser antes de dormir, após acordar, durante o café, entre outras brechas do cotidiano. No início, planeje no mínimo 10 minutos e no máximo 2 horas. Planeje escrever todos os dias, no mesmo horário, e faça uma espécie de ritual para ensinar o seu cérebro que você está prestes a escrever. Em outras palavras, coloque uma música, desligue o celular — A MENOS QUE VOCÊ ESCREVA NELE! —, faça um chá ou apenas coloque um despertador para começar a escrever. No começo, é difícil, e até meio chato, mas com o tempo você terá mais facilidade para começar e sua escrita será cada vez mais fluida. É uma questão de tempo e persistência. Sobre estudar e trabalhar fora Aos que trabalham e estudam fora o dia inteiro, escrever quando chegar em casa é uma péssima ideia. Por isso, sejamos realistas: aproveite as brechas do tempo, sem sacrificar os seus descansos. Então escrever no transporte público, durante o almoço no refeitório da empresa, no intervalo entre aulas, ou somente aos finais de semana já são boas ideias para começar. Com o tempo, você verá o que deu certo e o que pode ser aumentado e também o que não repetir nunca mais. A realidade é que qualquer rotina pode ser ajustada ainda que um pouquinho, especialmente se você tem sonhos e projetos. Lembre-se sempre de que escrever um pouquinho já é escrever, já significa que treinou, que tentou, e isso fará toda a diferença na sua carreira literária. Tome o tempo que quiser para planejar a sua rotina e organizar o seu espaço de escrita. Fazer exercícios às pressas, de qualquer jeito ou simplesmente deixar pra lá, porque você "não tem tempo", é a garantia de que você não vai escrever cada vez melhor. O autor Kevin J. Anderson escreveu um artigo intitulado: "Se eu tivesse tempo", no qual ele critica as pessoas que sempre sonharam em escrever um livro, mas nunca conseguiram, porque não tinham tempo. Segundo ele, muitas dessas pessoas realmente acreditam que, se elas tivessem tempo, também seriam capazes de publicar e fazer muito sucesso. Mas a crítica desse autor se encontra nessa supervalorização do tempo, como se todos os bons escritores só são bons porque têm tempo de sobra. Uma pessoa que escreve bem é aquela que conseguiu, mesmo atarefada e cheia de responsabilidades, treinar a sua escrita e persistir no aperfeiçoamento de suas habilidades. Escrever não é só escrever, é planejar uma história, saber estruturá-la, pensar em enredos intrigantes, criar conflitos interessantes, construir personagens profundos e muito mais. Portanto, se nós não somos capazes de reservar 10 minutos para treinar habilidades, como esperamos conseguir publicar um livro, que envolve muitos outros fatores, além de ter tempo para escrever? Os exercícios que citei anteriormente, por exemplo, não são tão exigentes, e a ideia é começar com pouco para aumentar gradualmente. Em algum momento, todos nós começamos com pouco, como diz um famoso ditado: "A natureza não pula etapas." Por isso, volto a enfatizar o planejamento. Se for impossível encaixar a escrita em alguma parte de seu dia, recomendo a criação de um diário de bordo, a fim de melhorar sua experiência e obter um conhecimento mais amplo sobre o seu processo de produção textual. Diário de Bordo Diários de bordo são documentos, muito comuns em escolas, nos quais são registradas todas as etapas de um projeto. Neste caso, escrever um livro ou uma webnovel será o seu projeto, e o diário de bordo servirá como um registro de todos os capítulos realizados ou de exercícios feitos, diante de um bloqueio criativo ou um dia ruim. Soa meio infantil, mas a principal ideia do diário de bordo é manter as suas anotações em um lugar seguro, que não se perca com o tempo. Assim você poderá sempre se lembrar de como ocorreram suas tarefas, o que aconteceu, como você se sentiu, etc. Escrever em um diário de bordo vai exigir que você escreva por mais uns 5 ou 10 minutos, e isso pode ser inviável numa rotina apertada. Mesmo assim, veja algumas vantagens de manter esse projeto paralelo. Autoconhecimento Quando você escrever em seu diário de bordo, registre todas as etapas da sua produção. Quanto tempo demorou para fazer, se você procrastinou, se se sentiu ansioso, entusiasmado, cansado, entre outros detalhes pessoais. Com tais registros, você terá acesso à emoções e atitudes que acompanham a sua escrita e que podem ajudar ou atrapalhar o seu processo. Gradualmente, você se conhece melhor e pode pensar em caminhos para intensificar ou diminuir partes da sua personalidade. Facilidades e Dificuldades Além do autoconhecimento geral, você também é capaz de identificar facilidades e dificuldades do processo. Escreva se o exercício foi mais difícil ou fácil do que o anterior e lance hipóteses sobre isso. Talvez você descubra que possui mais facilidade em construir personagens do que mundos, por exemplo, ou perceba que escrever pela manhã foi mais fácil do que à tarde. Identificar facilidades e dificuldades é o primeiro passo para aprimorar o seu comportamento diante da escrita, além de saber o que deverá ser estudado com maior profundidade no futuro. Reflexões Futuras Será possível refletir sobre projetos futuros. Se você está pronto ou não para escrever um livro, se percebeu uma melhora na escrita, se gostou ou não da experiência, entre outras reflexões. Escrever em Dias Ruins Por mais que escrever no diário de bordo seja aumentar o tempo de escrita na sua rotina, caso você esteja em um dia ruim, você poderá apenas escrever no diário de bordo e deixar o exercício pro outro dia — Desculpe, Dob… Novamente, escrever um pouquinho já é escrever, e registrar no diário de bordo que você está em um dia ruim já é um valioso registro para suas reflexões futuras. Não deixe de falar um pouco sobre o seu dia e todos os fatores que podem ter influenciado a sua escrita para o melhor ou para o pior. Isso poderá te ajudar a identificar os melhores e piores dias para escrever, no futuro. Onde escrever? Bem, não há um lugar específico. Você pode escrever em um diário de verdade ou em um bloco de notas. Criar o diário de bordo em um local novo e exclusivo pode aumentar as suas chances de valorizar o projeto e dar a atenção que ele merece. Experimente escrever após cada capítulo ou ato feito, ou cada exercício. Finalmente, chegou o grande momento de finalizar o projeto do diário de bordo e refletir sobre toda sua trajetória até aqui. Mesmo que você tenha pausado ou dropado o projeto, a reflexão será possível, ainda que um pouco menor. Tenho certeza de que todo o tempo que você aproveitou para escrever, apagar e reescrever fizeram toda a diferença no seu hábito e no aprimoramento de suas habilidades. Isso, é claro, se você de fato escreveu. Sem a sua escrita diária, sem sua parte, seu projeto é 100% inútil. Por isso a ideia de elaborar um diário de bordo, porque, dessa maneira, você terá para sempre uma espécie de relatório de todas as suas atitudes, emoções e impressões ao longo do projeto. Eu não farei nenhuma interpretação mirabolante nem diagnósticos fantásticos. Esse diário de bordo é seu, e você deverá refletir sobre ele. Fonte: https://www.udemy.com/share/101y9W3@y6eRvep8fiBApy54TvG6- PMliVpHwykZtze2oG5LBpi90rPfxFa2Zk05pz-aDnUi_w==/

  • Semântica e seu Impacto na Narrativa

    INTRODUÇÃO Já se pegou revisando uma cena tensa e pensando: “Como posso criar mais tensão nessa merda?” Bem, se você é como eu, isso provavelmente aconteceu uma hora ou outra, contudo, peço que não tema. Esse artigo tratará sobre isso e mais umas tantas outras coisas. Definições básicas de Semântica O poder das palavras! Semântica é o estudo das palavras e do significado que a elas está atrelado. O texto é o código pelo qual o leitor decodificará a mensagem que queremos passar, por isso que saber o impacto que uma palavrinha só pode ter é tão importante. Dizer que um dia ruim é a ruína de um homem é uma coisa, falar que Hitler odiava Judeus por ser rejeitado na faculdade de artes é outra totalmente diferente. Note que, num caminho, vou por uma abordagem mais genérica, com menos foco num único sujeito ou evento, enquanto, no outro, tem-se um foco claro, com uma mensagem ainda mais clara, por mais que o significado da primeira frase não fique claro na segunda. Por isso, temos que saber como vamos falar algo. Este é o segundo passo na criação de um texto, saber o que vamos falar é o primeiro, e por qual meio essa mensagem se espalhará é o terceiro. Ainda no estudo de semântica, temos a semiótica, que se dedica ao estudo dos significados. O significado é a parte do signo linguístico que representa a ideia transmitida, a ideia abstrata. É o conceito, a origem daquela palavra. Além do significado, tem-se o significante, que é a imagem acústica da palavra. Pode-se alterar toda a percepção de uma cena apenas usando do significante. A palavra “Rubro”, por exemplo, parece “Bruto”. Em essência, é a mesma coisa que carmim ou vermelho, uma cor, porém, o impacto que “Rubro” tem no leitor é muito mais agressivo que o tom tedioso do “vermelho” e belo e agradável do “carmim”. Em essência, quando usamos o significante para um significado, criamos no leitor uma imagem mental daquilo que está sendo dito, mudando assim a atmosfera e sentido do texto. Semântica na Sintaxe Semântica, como falei antes, é a parte da gramática que estuda o poder das palavras. Agora, como usar semântica na sintaxe? A resposta dessa pergunta é simples, mas complicada. Pense que nós temos o seguinte período: Na manhã de domingo, Etevaldo voltou para casa e encontrou o seu cachorro, Bilu, morto. Note que temos nela uma oração coordenada aditiva. A aditiva dá ideia de continuidade, de fluidez. Contudo, essa ideia é meio tediosa para uma notícia impactante e que mudará o sentido da narrativa, sendo melhor aplicada num relato. Agora, vamos alterar o período para uma oração subordinada adverbial proporcional: Numa manhã de domingo, à medida que se aproximava da casa, mais próximo Etevaldo estava de encontrar seu cachorro, Bilu, morto. Note que tem-se um tom muito mais tenso e final, dando ênfase na incapacidade de escapar desse destino cruel que era ver seu amado bichinho morto. Esse é um exemplo de como a mudança de uma oração pode simbolizar toda uma mudança no feeling do texto. Definições básicas de Narrativa Narrativa O que define a narrativa é meramente a passagem do estado A para o estado B. Essa é a definição mais básica que encontrará sobre o tema. Agora, para nos aprofundarmos mais, vamos supor que há um narrador de terceira pessoa heterogênico. Este tipo de narrador é caracterizado pela exatidão dos fatos e ausência de conexão pessoal com a estória. Contudo, apenas por não haver conexão, não quer dizer que não há uma voz narrativa. Um dos objetivos desse artigo é justamente auxiliar os novos escritores a encontrar essa voz. Quando se tem um narrador indiferente, temos uma difícil tarefa de deixar o nosso conto mais interessante. É possível, apesar de ser difícil. Instância narrativa Tem-se, na narrativa, o narrador. Isso é meio óbvio. O que não é muito óbvio é o nome da junção que temos de Perspectiva, Atitude, Voz e Função. É chamado de Instância Narrativa, sendo a salada de fruta da junção desses quatro aspectos. Agora, o que são eles? Bem, como diria Jack, o estripador; vamos por partes. Perspectiva é a maneira como a narrativa é apresentada ao leitor. Alguns acham que se trata das pessoas narrativas, mas isso está errado. Enquanto tem certa relação, não é a mesma coisa. Perspectiva trata de coisas como o conhecimento do narrador, qual o viés narrativo, manipulação de informações, etc. Um narrador precisa apresentar um grau de consistência do início ao final. Claro, a menos que o narrador seja um personagem que ficou louco. Atitude refere-se a disposição, percepção e perspectiva assumidas pelo narrador ao longo da obra em relação a estória e personagens. Isso quer dizer que ela pode ser desde objetiva até parcial. Lembre-se que, desde que fique bom, tudo é permitido na narrativa. Voz é o ponto de vista, a pessoa narrativa. É aquele que guia o leitor através da narrativa. Há quatro vozes atualmente, sendo elas: Primeira, terceira, segunda e quarta. E, finalmente, Função. Esta é a parte que se preocupa com o que o narrador vai fazer e quando vai ser feito. Coisas como transmitir emoção; comentar sobre a ação; criar atmosfera e tom; tudo entra aqui. Em essência, são as ferramentas que nós, autores, podemos usar para tornar o nosso narrador, e, como consequência, nossa estória, mais interessante. A junção de todas essas coisas é o que faz seu narrador. Antes de escrever sua estória, primeiro pense nesses quatro aspectos, para não ficar limitado demais ou ter de reescrever o texto inteiro. Narrativa de Gestalt A psicologia de Gestalt é um conceito que já apresentei em outro artigo, mas aqui vai: É a corrente de pensamento que se baseia no estudo que classifica as percepções da pessoa como um todo e não como a soma de suas partes. Agora, como isso é aplicado na narrativa? Simples. Em essência, pense que uma cena acaba com o protagonista voltando para casa e a cena seguinte começa com ele em casa. Não é necessário narrar todo o caminho de volta, visto que o leitor consegue assumir que o que houve ali foi sem importância. Há formas de aplicar a Narrativa de Gestalt para tornar sua estória envolvente, mas vamos tratar disso mais para frente. Narremas e Funções internas Narrema é a unidade de ação mínima. Pense nele como o morfema. Assim como o morfema é a menor partícula numa palavra, o narrema é a menor partícula de uma narrativa. É uma ação pequena e sem grande importância, mas importante o suficiente para estar numa cena, pois, sem ela, a cena perderia sentido e impacto. Já a função é a unidade de ação que compõe um elemento da cena. Em essência, ela se divide em funções nodais e catálises. As nodais são ações nucleares de uma narrativa, que a fazem avançar. Já a catálise é o momento de pausa, onde o autor toma o tempo para explicar algo ou dizer o estado emocional dos personagens ou descrever algo ou alguém. Semântica aplicada em Artifícios narrativos Pacing Pacing é nada mais que a quantidade de tinta num capítulo, ou seja, é a velocidade com que as coisas se desenvolvem. Pacing existe tanto como um indicador de gênero quanto modulador de tonalidade, onde textos mais emotivos normalmente possuem mais pausas, catálises, para que haja mais aprofundamento do leitor na cena. Da mesma forma, quando aplicamos a Narrativa de Gestalt, estamos aumentando a velocidade com qual o texto se desenvolve. Afinal, estamos elipsando uma cena inteira que é desnecessária para o fluxo da narrativa. Agora, como usamos semântica no pacing? Bem, como disse antes, Semântica é o poder das palavras. Essa força se manifesta de diversas formas — e veremos mais delas depois — e, no pacing, sua principal característica é mostrada quando trocamos as próprias palavras que usamos para algo mais longo, colocando informações adicionais que são desenvolvidas a partir dessas mesmas palavras. Uma narrativa é um conjunto de ações juntas por pontos-chave e, ao aplicarmos este artifício, estamos apenas alongando os fios de ações, colocando um ou outro ponto secundário no caminho, para manter o fluxo e evitar a perda de sentido. Um texto mais lento é um texto com mais carga emocional, o problema é quando essa carga não atinge o leitor, até mesmo passando longe de alcançá-lo. Dessa forma, precisamos usar da semântica para mirar direito essa arma e dar ao leitor o que lhe é de direito! A semântica, nesse caso, é como se fosse um regulador que aumenta a distância alcançada pelo atirador. Veja o exemplo: — Oi, Bobby — disse Natasha, olhando em meus olhos. — Oi, como vai? — Vou bem. — E o marido? Isso é um texto rápido, mas como deixamos ele mais lento? Mais tenso? Dessa forma: — Oi, Bobby — disse Tasha, olhando fundo nos meus olhos cor de esmeralda. Ela vestia a mesma roupa de sempre, com o mesmo olhar cansado e sorriso falso. Tentei sorrir também, feliz por encontrar uma velha amiga dos meus tempos de escola. — Oi, como vai? — Tentei parecer o mais natural possível, forçando-me a ver o lado bom das coisas. Esta era uma característica que muitos achavam admirável e me renderam o título de “Robert, o Otimista”. Era algo bem besta e que preferia que o pessoal do trabalho não soubesse disso tão cedo. Fingindo um sorriso uma vez mais, ela virou a cabeça para baixo, como se para esconder algo. — Vou bem. — Senti meu coração rachar com a voz trêmula dela. Sempre tive uma queda pela Tasha, sempre uma mulher bonita, com cabelo ruivo e olhos de um belíssimo azul elétrico. Era uma das minhas paixonites, assim como um dos meus maiores arrependimentos. Ter sido incapaz de a salvar, de a proteger sempre pesou nos meus sonhos. Mesmo agora, casado com uma mulher de sucesso, ainda não conseguia esconder os sentimentos que tinha pela Tasha. — E o marido? — Juro que tentei ao máximo manter o veneno fora de minha voz, tentei acalmar-me e manter o otimismo, mas como poderia? Como poderia manter um sorriso no rosto ao lembrar daquele monstro? Entenderam o que eu quis dizer? Notem que o segundo texto tem o mesmo sentido, porém há nele mais tensão, mais emoção e mais detalhamento. Além disso, tentei ao máximo manter as informações conectadas, sempre uma levando a outra. Esta é a essência da semântica no pacing, a capacidade de inserir informações sem perder a mão. Por isso que estudamos semântica, para ter certeza de que nosso texto, além de claro, será conciso e coeso. O poder das palavras se manifesta tanto em palavras únicas, com o mesmo significado mas grafia diferente, quanto a própria forma como ligamos múltiplas palavras, completando o sentido uma da outra e levando a uma forma maior. O todo é maior que a soma de suas partes, lembram? Pulso Pulso de enredo é quando colocamos num capítulo algo emocionante para manter o leitor entretido, normalmente acontece a cada quantidade x de palavras (depende da mídia, estilo e da carga emocional da informação). Em essência, é o que mantém o leitor com os olhinhos grudados no livro. Pode ser uma reviravolta, uma emoção que o personagem sente ou uma ação-chave, que muda a direção da estória. Para aplicarmos semântica nesse pulso de enredo, precisamos nos ater a emoção. Nós aplicamos isso normalmente quando queremos manipular a frequência que usamos o pulso de enredo. Pare para pensar da seguinte maneira: uma palavra tem uma etimologia (uma origem) e uma sonoridade (imagem acústica). Ao aplicarmos semântica no pulso, estamos usando a linguística para criar no leitor mais emoção. Ao usarmos a palavra “justo”, queremos dizer que a pessoa é, bem, justa. Contudo, quando queremos associar outra característica a ela, uma que deixe no leitor uma imagem fixa, podemos dizer que o personagem “possui moral e mantém uma ética espartana”. Note que estamos falando a mesma coisa, porém associamos ao personagem a palavra “espartana”, que traz a ideia de seriedade e disciplina, associada, normalmente, ao exército. Isso, num contexto onde ele está numa zona de guerra, faz o leitor associar, ainda que inconscientemente, o personagem a uma figura importante num exército. Isso ocorre pois há uma imagem coletiva de que pessoas importantes são sérias no que fazem. Em essência, com essa descrição, damos ao leitor a imagem de um comandante sério e justo, que cuida bem dos seus subordinados. Isso tudo nos permite introduzir um pulso com muito mais impacto no texto. Afinal, quando alguém tão sério e competente é o primeiro a quebrar, só mostra o quão desesperançosa é a situação atual. Cliffhanger Aos que não conhecem, Cliffhanger, ou gancho, é quando colocamos algo no final de um capítulo para prender a atenção do leitor. É uma tática muito usada para ter certeza que o leitor continuará lendo o livro, mesmo que já tenha lido cinco capítulos, um atrás do outro. Visto isso, como fazer para aplicar a semântica nesse tipo de técnica? Pense no seu capítulo na relação de um atleta com uma esteira. Você tem a esteira como o conteúdo do texto e o atleta como o leitor. Agora, imagine que a velocidade pela qual a esteira corre é o pacing da obra, com alguns goles de água como o pulso. Onde o cliffhanger entra? Bem, o Cliffhanger seria mais uma garrafa de energético que damos ao leitor depois de uns quatro ou cinco copos de água. É aquilo que renova a energia e interesse do leitor em continuar o exercício mental da leitura. O sabor desse energético, a fórmula dele e o quão bem ele cai no estômago são questões que podemos controlar através da semântica. Imagine-se lendo um capítulo onde o protagonista começa num trem em movimento e termina segurando um galho ligado a um penhasco, preso entre a vida e a morte. Enquanto é um exemplo tosco e muito utilizado, permita-me fazer uma pergunta para vocês, jovens escritores: “Por que o leitor deve se importar com a vida do protagonista?” Enquanto é uma pergunta cruel, insensível até, não podemos deixar de ver a importância dela. Normalmente, o protagonista é aquele que nosso leitor acompanha por maior tempo. Agora, digamos que você não tenha tempo para desenvolver o personagem? Digamos que começou a história no meio da ação, no clímax do clímax, e o conto se baseia em como o personagem chegou até aí. Como fazer para que o leitor se importe? Bem, assim como o Pulso, aplicamos palavras que tenham o mesmo valor que a situação presente. Desta forma: Quando penso na situação atual, vejo que desperdicei minha vida. É aqui que vou morrer? Preso num galho, no meio do nada? Patético. Esta era a melhor palavra que me definia. Um homem triste e covarde, que desperdiçou sua vida indo atrás do sonho de outros. “Aqui jaz Theodoro Martines, descanse em paz.” Isso sem dúvida estaria escrito na minha lápide e não podia reclamar. Quer dizer, nunca me arrisquei, nunca tentei brilhar, nunca fiz nada demais! As lágrimas caiam livremente conforme lembrava das várias telas brancas que podia ter pintado, ou daquela garota, qual o nome dela mesmo? Isadora? Não importa… Nada mais importa. O galho já começou a ceder e não demoraria muito para cair deste Zênite. Olhei para cima, amaldiçoando Deus pelo belo dia que fazia. Nenhuma nuvem no céu… um excelente dia para um zé-ninguém morrer. Ouvi o som das raízes rompendo e fechei os olhos, permitindo que a força de meu peso me afundasse. Conforme caía, peguei-me lembrando da minha infância… que desperdício. Bem, não acho que possa parar estas memórias. Sim, não podia pará-las e, conforme marchavam, uma me chamou a atenção, um sorriso tenro se abriu. Como viram, usei da ideia apresentada para criar uma situação onde o leitor fica interessado com uma quebra de expectativa. O elemento de um “sorriso tenro” nos remete a ideia de paz, carinho, amor; o que nos faz nos questionar o que poderia ter trazido a esse personagem, alguém que viveu uma vida sem sentido e que queria continuar vivendo, a paz que tanto queria. A semântica tem esse poder. Eu poderia só ter dito que ele sorriu, ou que sentiu paz, mas note que o elemento “Tenro” renova a vontade do leitor de ler e, a partir daí, nos permite começar uma história de como ele chegou até aquela memória, mantendo o interesse do leitor até o final do terceiro ou quarto capítulo, onde incluiremos o Cliffhanger a cada dois capítulos para fazer o leitor virar as páginas até o fim, onde Theodoro Martines enfim cairia para a morte. Uma palavra pode mudar todo um texto, de forma que aquilo que era chato e desinteressante acaba tornando-se uma faísca de potencial, que, nas mãos certas, desabrocha num enorme fogo, cuja intensidade é tamanha que é impossível desviar o olhar. Tensão semântica Tensão é um termo comumente associado ao enredo. A ideia está intimamente ligada ao estruturalismo, onde tem-se estruturas narrativas para manipular a curva de tensão e prender todos que leem o texto. A tensão deve ser, portanto, manipulada com cuidado excessivo, onde qualquer técnica pode ser usada. Nesse artigo, vimos vários conceitos práticos na aplicação de semântica dentro da narrativa, e isso vai continuar. Para aplicarmos semântica e manipularmos a curva de tensão, devemos pensar primeiro nela como um gráfico que sobe, com ocasionais quedas, até atingir o cume mais alto e disparar para o chão como resultado. A tensão é o resultado da relação do narratário com o conflito mostrado, o sentimento que o mesmo narratário sente ao ler um texto. Portanto, é simples aplicar a tensão em semântica ao escolher palavras que provoquem algum tipo de reação que amplifique ou quebre o sentimento que o nosso leitor tem com determinada cena. A semântica pode ser usada para diminuir ou aumentar a tensão. No primeiro caso, queremos usar palavras mais leves, que passem o sentimento de que está tudo bem, que o conflito aparentemente terminou. No segundo, usamos do conhecimento do gênero que escrevemos para escolher qual linguajar usaremos, usando de palavras que passem bem a sensação do que está acontecendo, tanto na imagem acústica quanto na relação significativa. Quando falo de imagem acústica, digo como a palavra se parece, o que ela lembra. Pode-se falar “grande” para algo, bem, grande, mas também pode-se usar “colossal” para uma figura humana com alturas desproporcionais, ou “mastodôntico” para alguma besta imensa. Note que ambas evocam imagens diferentes com base na raiz delas, de onde elas vem. Colosso para colossal e mastodonte para mastodôntico. Como tudo nesse artigo, porém, lembre-se de usar de forma que não fique muito na cara, use uma vez a cada mil palavras, no máximo. Além da imagem acústica, tem-se também a relação significativa por detrás desta palavra. Nisso, nós lidamos muito mais com a relação de significação dentro do texto. Como relacionamos as palavras de cada parágrafo para podermos aumentar gradativamente a tensão a cada linha lida. Invés de focarmos em usar os significantes (imagem acústica) de forma explosiva, usamos os significados constantemente numa mesma cena, buscando consistência invés de poder de mudança. Isso é especialmente efetivo quando se quer criar a sensação constante. Para tal, é preciso um controle não só semântico, como também sintático, usando de cada termo numa oração para definir o sentido do texto. Orações subordinadas adverbiais conformativas são mais rápidas que coordenadas adicionais, por exemplo, pois são duas informações sendo apresentadas quase que ao mesmo tempo, quase que numa mesma oração. Este artifício, por ser muito mais sútil, pode ser usado mais vezes pois não são todos que reparam nisso, desde que liguemos as orações de forma que não se repitam mais de uma vez a cada três parágrafos, pouquíssimos leitores vão perceber, e, mesmo os que perceberem, precisarão procurar por essa informação. Voz através da semântica Voz nada mais é que a forma que o leitor tem de identificar quem está falando/narrando. A forma como aplicamos a semântica nisso, portanto, é simples. Dialeto. Quando se tem um personagem ou narrador que fala através de uma linguagem específica, tem-se também uma imagem mental, formada no inconsciente do leitor, de quem está falando. Um caipira, um político e um homem comum tem formas diferentes de se expressar e podemos usar disso para criar a voz. Conclusão Vê-se, portanto, a importância da semântica dentro da narrativa. Não se pula essa parte e nem nenhuma outra quando se inicia os estudos, fazer isso fará com que aprenda errado e tornará muito mais difícil no futuro corrigir este erro. Dito isso, nos vemos num próximo artigo.

  • Como Gerar Empatia em Seus Leitores.

    Uma das maiores dificuldades que o ser humano tem é a de expressar os seus sentimentos. Seja pela timidez ou até pelo medo de ser rejeitado ou ridicularizado, muitos não conseguem colocar em palavras aquilo que sentem. E na escrita não é diferente. Já vi vários e vários casos de escritores relatando que escreveram um texto sem emoção ou que não sabem transmitir emoção para o leitor. Por não conseguirem realizar aquilo que torna a literatura bela, alguns acabam chorando de angústia, de raiva de si mesmos, e pensam em desistir da escrita, se sentindo imprestáveis. Mas não se desespere, caro escritor(a), pois eu trago a solução! Você não precisa encher a cara para desabar os sentimentos numa folha de papel — tampouco ligar para o(a) ex, dizendo que está com saudades. Basta ler este artigo até o fim e tomar nota das dicas de escrita emocional que eu separei para vocês S2 Dica 1: Cinco Sentidos Por ser os olhos do leitor, é preciso utilizar as mais variadas ferramentas para ilustrar a história e não cair no principal erro do: "mostre, não conte", que é justamente contar a história sem elementos visuais ou exposições acuradas. Em outras palavras, histórias ruins contam sobre o que está acontecendo, enquanto histórias boas mostram o que está acontecendo. É claro que nem sempre — e é bom deixar isso claro — é possível mostrar o que está acontecendo, gerando novas ferramentas de descrição e exposição de cenas e conflitos. Assim, fazer uso dos 5 sentidos para descrever eventos, emoções e até revelar a personalidade dos personagens é um bom método para escapar de histórias ruins. Por exemplo, em vez de escrever: -> "Maria cheirou a flor e ficou feliz." Você pode estimular o olfato da seguinte maneira: -> "O aveludado aroma da flor desabrochou um sorriso entre seus lábios." Abordar os cinco sentidos não é sinônimo de escrever somente: "ela viu, cheirou, ouviu, provou ou sentiu." Faça uso de adjetivos na medida certa e crie um intercâmbio entre os sentidos. Nada te impede, por exemplo, de dizer que o aroma da flor é aveludado, ainda que o veludo seja sentido por meio do tato. Esse intercâmbio é o que, na Estilística, chamamos de Sinestesia e pode ser enriquecedor para a prosa. Mas na medida certa! Se não, caímos na ribanceira da prosa púrpura, que é tão florida que perde o sentido. Sabe aquele ditado: "se melhorar, estraga"? Pois é, esse é o real significado da prosa púrpura. Dica 2: Ansiedade e Apatia Como definir o ritmo da narrativa? Como escrever acontecimentos mais rápidos e mais lentos? O ritmo é o andamento da sua história. É um conjunto de acelerações e desacelerações que você escolhe para caminhar até o final da trama. Certos eventos exigem ações alucinantes e reações imediatas, como uma perseguição policial, por exemplo. E outros eventos pedem por longos momentos de pausa para maior atenção aos detalhes, como um romântico beijo, por exemplo. Quando estamos falando sobre ansiedade, o ritmo da narrativa tende a ficar um pouco acelerado. Quase todo mundo sabe quais são os sinais e sintomas da ansiedade, certo? Taquicardia, pernas inquietas, roer as unhas, ranger os dentes, entre outros. Logicamente, todos eles mencionam um ritmo acelerado, o que já contribui para uma escrita menos enrolada e mais direta. Utilize o modo "mostre, não conte" a seu favor e não apenas diga que "a noiva está ansiosa", por exemplo. Mostre ao seu leitor imaginário — o narratário — que ela está ansiosa e faça com que ele mesmo chegue a esta conclusão. Acelerar a narrativa não significa atropelar os acontecimentos e apressar os personagens. É tudo uma questão de sensibilidade. Você não precisa escrever sobre quanto tempo demorou a cena anterior, ao passo que não é recomendado ficar pulando grandes espaços de tempo para chegar ao destino final. Acelerar a narrativa é escrever períodos mais curtos, utilizando menos vírgulas e mais pontos. Acelerar a narrativa é descrever com mais objetividade e urgência, deixando adjetivações e longas metáforas para depois. Acelerar a narrativa é investir em ações e menos em pensamentos ou longas divagações, relatando os fatos, sem enrolar. Por outro lado, desacelerar a narrativa é o exato oposto. Períodos mais longos, momentos reservados para escapar da trama principal, conflitos internos e descrição de sentimentos, maior atenção a pausas e assim por diante. Quando a narrativa é desacelerada, isso significa que o personagem principal está mais calmo, mas ele não pode ficar — DE JEITO NENHUM! — confortável. Conflitos devem acontecer o tempo inteiro e todos eles convergem no fim da história. Portanto, quando o enredo é desacelerado, você deve recorrer a outras ferramentas para manter o seu enredo vivo. Você pode iniciar outra perspectiva, contar a história de outra pessoa, descrever reflexões, etc., mas você não pode deixar a história morrer. Imagine descrever alguém indiferente, que não é capaz de sentir nada sobre o que está acontecendo ao seu redor. Para mostrar a apatia na prática, é interessante fazer um contraste de emoções. Coloque o personagem apático em uma situação que exija altos níveis de qualquer emoção, seja surpresa, tristeza, alegria, e insira personagens "normais". Assim, os personagens "normais" vão reagir de acordo com a situação, contrastando com a apatia do protagonista. Dica 3: Nojo Os detalhes fazem toda a diferença. Se eu te contar que meu cachorro teve que parar no veterinário por causa de uma marca específica de sabonete, é provável que a sua imagem sobre essa marca seja manchada com o meu comentário, dependendo também de como é a minha credibilidade. Porém, se você descobrir que eu escondi o fato de que meu cachorro comeu o sabonete, nós teremos uma clara mudança na visão do acontecimento. Detalhes como esse não deveriam passar despercebido, mas é certo de que nossa perspectiva sobre muitos fatos e fenômenos é fortemente influenciada pela forma como nós verificamos as informações. Focar no detalhe do cachorro que passou mal e esquecer que o produto foi usado de maneira 100% incorreta revela a intenção da interlocutora, provavelmente com a intenção de manchar o nome da empresa. Porém, na ficção, privilegiar alguns detalhes em detrimento de outros é uma ferramenta para direcionar a atenção do leitor para a emoção ou perspectiva que você quiser. Isso é bem positivo, uma vez que escritores exageradamente enigmáticos podem ser um pé no saco porque você nunca sabe o que eles querem e do que eles estão falando. Mas não me entenda mal, um pouco de mistério não faz mal a ninguém — é lógico — e é bom quebrar a cabeça dos leitores para charadas e tramas complexas. Como eu já mencionei, a ideia nunca é entregar tudo mastigadinho para o leitor, mas sim convidá-lo a participar da aventura que você propõe. Caso queira provocar nojo no leitor, tente privilegiar alguns detalhes em detrimento de outros. Enfatizar os detalhes e utilizar adjetivos precisos é a chave para que o leitor seja capaz de imaginar a cena nojenta. Ainda que o leitor não tenha nojo, por exemplo, de pescar e não veja problemas em manusear minhocas e retirar anzóis de olhos de peixes, invista nos detalhes que causem nojo na personagem. Se o leitor sentir nojo ou não é uma questão pessoal. O importante é que a emoção esteja presente na narrativa, de uma maneira que vá além da frase: "fulano sentiu nojo." Ao seguir as dicas sobre como finalizar seu texto, você conseguirá transmitir sentimentos ao leitor, mas ficará em dúvida se as emoções transmitidas são aquelas que você queria transmitir, então lá vai uma dica bônus para vocês: O que fazer com o seu texto depois de escrito? Primeiro, você tem que saber se ele "funciona" ou não; se você deve gravá-lo em pedra ou usá-lo como papel de parede. Você precisa de algum tipo de retorno para ver se escreveu o que pretendia. Neste momento, você não sabe se ele funciona ou não; você não pode enxergá-lo; está muito próximo dele. Portanto dê seu texto a dois amigos, amigos próximos, amigos em quem possa confiar, amigos que lhe dirão a verdade, que não tenham medo de lhe dizer: "Detestei. O que você escreveu é fraco e irreal, os personagens não têm relevância, a história é forçada e previsível." Alguém que não tenha medo de ferir seus sentimentos. Você vai perceber que a maioria das pessoas não vai falar a verdade sobre o seu texto. Elas dirão o que pensam que você quer ouvir: "É bom, gostei! Realmente gostei! Você colocou coisas ótimas nele. Acho ele muito obtuso", o que quer que isso signifique. As pessoas têm boas intenções, mas não percebem que o ferem mais ao não falarem a verdade. Em Hollywood, segundo Syd Field, ninguém lhe diz o que realmente pensa; dizem que gostaram, mas "não é o que queremos fazer no momento presente"; ou "temos algo como isso em desenvolvimento". Isso não vai ajudá-lo. Você precisa de alguém que lhe diga o que pensa realmente de seu texto, então escolha cuidadosamente as pessoas para quem entregá-lo. Depois que elas o lerem, escute o que têm a dizer. Não defenda o que escreveu, não finja ouvir o que dizem e não alimente sentimentos de certeza, indignação ou mágoa. Veja se elas captaram a "intenção" do que você quis escrever. Ouça suas observações do ponto de vista de que podem estar certas, não de que estão certas. Elas farão observações, críticas, darão sugestões, opiniões, farão julgamentos. Elas estão certas? Questione-as; pressione-as. Suas sugestões e ideias fazem sentido? Acrescentam alguma coisa ao seu texto? Melhoram-no? Veja a história junto com elas. Descubra o que elas gostam, desgostam, o que funciona e o que não funciona para elas. Você quer escrever o melhor texto possível. Se você sente que as sugestões podem melhorar o texto, use-as. As mudanças devem ser feitas por escolha, e você tem que se sentir confortável com essas mudanças. Esta é sua história, e você saberá se as mudanças funcionam ou não. Se quiser fazer quaisquer mudanças, faça-as. Você despendeu vários dias trabalhando no texto, então faça-o direito. Mudanças são mudanças; ninguém gosta de fazê-las. Mas todos temos que fazê-las. Nessa altura, você ainda não pode enxergar seu texto objetivamente. Se quer outra opinião "só por segurança", prepare-se para ficar confuso. Se você o entrega para quatro pessoas, por exemplo, todas discordarão. Uma pessoa vai gostar do assalto ao Chase Manhattan Bank, outra não. Uma pessoa dirá que gosta do assalto, mas não do resultado do assalto (ou eles conseguem fugir ou não); e a outra perguntará por que você não escreveu uma história de amor. Isso não funciona. Escolha duas pessoas em quem possa confiar e seja feliz com suas primeiras impressões.

  • Arquétipos de Personagem

    Quando assistimos uma novela da globo, apreciamos um filme de Hollywood ou lemos aquele romance épico da Jane Austen, percebemos a presença de pelo menos três personagens: o herói, a princesa e o vilão. O herói normalmente é um galã gostoso, fodão para caramba, que salva a mocinha e derrota o vilão malvado. Este, por sua vez, é sempre perverso e sádico, divertindo-se toda vez que atira uma pedra no caminho do herói, mandando seus capangas à conta-gotas pra hitar. O vilão é aquele personagem com o traço mal-intencionado ou maligno do The Sims, com a habilidade travessura upada no máximo. Sobre a mocinha, creio que dispensa comentários. Ultimamente estamos com um grave problema nesse fantástico mundo da web-literatura. As personagens de vocês têm estado cada vez mais estereotipadas. Cada nova tendência que surge parece durar dois ou três anos, arrastando nossos pobres leitores em um marasmo de mesmice e tédio. Vai por mim, meu caro e minha cara, ler um estereótipo a primeira vez pode até ser divertido, igual a comer um pedaço de bolo recheado de brigadeiro, mas na décima, enjoa até mesmo o melhor dos glutões. Bom, agora você, escritor de webnovels ou mangaká, deve estar se perguntando: “Nossa, mas o que coelhinhos sarnentos isso tem a ver com arquétipos literários e como isso vai me ajudar a construir meus personagens?!” Ora, meu jovem e curioso escritor… Tem tudo a ver! Venha com o tio Petter aqui e vejamos se não. O que é um arquétipo? Um arquétipo é um conjunto de imagens primordiais que existem em nosso inconsciente coletivo. É o que o conhecimento humano ao longo de milênios e milênios concebeu em nós, de modo inato, sobre os conjuntos imagéticos mais comuns nos sujeitos com os quais convivemos, em sociedade, ao longo desse tempo. Faz parte do instinto inerente da humanidade de qualificar e classificar, afinal, foi esse o poder que Deus deu a Adão, não? Dar nome a todas as coisas. Calma, vamos explicar com palavras menos sofisticadas. Podemos dizer que o responsável por esse negócio de arquétipo é o psicólogo Carl G. Jung, dizem as más línguas que ele foi discípulo de Freud. Para melhor entender, temos que dissertar um pouco sobre a teoria da psicologia analítica de Jung. Não me matem, por favor. O Jung entende que os limites da consciência atingem o universo desconhecido, composto por uma parte do campo de nossas consciências que é simplesmente impossível de ser consumado. Ele divide o desconhecido em Desconhecido do Mundo Externo e Desconhecido do Mundo Interno, sendo este último o inconsciente. Esse tal inconsciente é muito forte, assumindo influência avassaladora em nossas vidas, influindo em nossas emoções e escolhas, sem que sequer saibamos disso. O Jung vai além e diz que esse tal inconsciente possui uma força criativa tão poderosa que cria o que entendemos por consciência. Não vem ao caso aprofundarmos, mas, resumindo, esse inconsciente pode ser dividido em duas camadas, sendo elas o inconsciente pessoal e o consciente coletivo. O inconsciente pessoal é como se fosse um receptor, sendo formado por tudo aquilo que já fora adquirido por cada um, de forma individual, ao longo da vida; contudo que o ego daquele indivíduo em específico não foi capaz de suportar e, portanto, reprimiu ou “esqueceu”. De modo diferente, o inconsciente coletivo é aquilo que não pertence a você enquanto indivíduo, caro leitor, mas à toda humanidade, pois é herança espiritual. É aquilo que inconscientemente você já nasce sabendo. É aí que os arquétipos entram. Ora, no geral, e quando estamos em grupo isso se torna notório, as pessoas tendem a apresentar comportamentos padronizados, percebemos isso em nosso dia a dia. Voltando aos grupos, há quase sempre a figura do líder, aquele que é mais proativo que os demais, mais comunicativo e normalmente sugere a direção a tomar para alcançar certo objetivo, seja ele os rumos que um mega-grupo de investimentos deve tomar para triplicar suas ações, ou então algo mais rotineiro, como estimular os amigos a ir em certa balada ou barzinho em uma sexta ou sábado à noite — eu era quase um especialista neste último, hehe. Bem como também temos a figura do bobo, que é aquele sujeito gracista do ensino médio que transforma a apresentação de sistemas reprodutores de biologia em um verdadeiro, porém péssimo, show de stand up; isto na minha época, ao menos. Pelo que sei, hoje em dia eles se tornam tiktokers. Notaram? Refletiram um pouco e perceberam alguém que conhecem e acaso encaixe nas roupagens que descrevi? Não? Ora, então vou citar alguns outros arquétipos comuns nos colegiais do Brasil. Tenho certeza que vocês já se depararam com a típica patricinha debochada, com o nóia, ou com o professor bonitão que as meninas ficam fofocando, com o nerd da sala… Estes são só alguns. “Arquétipo” vem da junção de duas palavras gregas; archein ou arché, que significa “original”, “início”, “arcaico”, “causa” ou “antigo”, a depender do contexto, e typos, que pode significar “padrão”, “marca” ou “modelo”. Juntando tudo fica o “modelo de algo”. São traços característicos da psicologia humana. Ou seja, padrões de comportamento que os sujeitos apresentam, como os descritos acima, afinal, segundo esta óptica, nós não nascemos como uma tabula rasa, nossa psique já vem viciada por todos esses anos de humanidade. Jung tirou a ideia de arquétipo de Sto. Agostinho, aliás, mas também não vem ao caso. Para não mais nos alongarmos, suporei que você, meu caro mago, já entendeu o que coelhinhos dentuços é um arquétipo, de onde vem e, portanto, resta-nos compreender o que ele faz. O que faz um arquétipo? Sendo, pois, os arquétipos ideias de comportamentos-modelo que observamos nas pessoas em nosso cotidiano, o que para a teoria junguiana se trataria de elementos inabaláveis do inconsciente, resta entendermos para que coelhadas serve esse tal archetypos. Isto é, o que ele faz. Para nós, o arquétipo será a premissa para o caráter de um personagem, para as circunstâncias que esse personagem encontrará e para os símbolos que sua história irá apresentar. Explicarei: Evidente que se lembram do líder corporativo e do bobo da sala, mencionados acima. Pois então. O líder carrega o arquétipo do governante, aquele que, com autoridade, dirige a alcateia para o bem comum, embora às vezes seja tirânico e deteste que contrariem sua vontade. Já o bobo carrega o arquétipo do… adivinhem, sim, do bobo. É aquele personagem, adivinhem, bobão, que faz piadinhas e traz leveza às cenas, apesar de ser meio louco e sem filtro às vezes. É o alívio cômico da obra. Percebam que aqui ambos remetem a traços de caráter. E a ideia é exatamente esta, pois é nisso o que consiste o que chamamos de arquétipos de caráter. Mas temos, também, os arquétipos de circunstância (ou de história) e os arquétipos simbólicos na literatura. Os arquétipos de circunstância/história se referem a premissas de enredo, isto é, que caminhos a trama seguirá. O que é bem diferente de arquétipo de personagem. Por exemplo, temos a missão, que consiste na busca de objeto fantástico, na satisfação de um objetivo que os personagens têm, como salvar o mundo derrotando o Maou, ou resgatar a princesa que se encontra presa na torre mais alta do mundo. Temos, além disso, o fim da inocência, em que o personagem recebe um ensinamento que marca uma transição, ou amadurecimento, de sua personalidade e/ou caráter, podendo ser ela uma experiência sexual, como o primeiro beijo de um nerd virgem, que agora passa a ser só nerd, ou uma tragédia, como a perda da mãe para uma doença incurável, et cetera. Já os arquétipos simbólicos referem-se a elementos textuais que estão escondidos no texto. Como a oposição de luz e escuridão, isto é, esperança e bondade vs. desilusão, desespero e maldade. Aqui entra também a numerologia, na qual três representa a Divina Trindade; o quatro, os elementos da natureza e o sete, os pecados capitais. Um exemplo concreto é a obra Sevens, na qual cada deusa acaba representando um número, o que reflete indiretamente no desenlace da obra. Nosso foco aqui são os arquétipos de caráter, já que são eles quem irão ajudar você, escritor peralta, a melhor construir suas personagens. Os tipos mais comuns de arquétipos de caráter Pois bem, vamos à parte que vocês estavam esperando, espertinhos. Ao todo, pela teoria junguiana, temos doze arquétipos principais. Debruçamo-nos sobre eles. I) O Herói. Talvez o mais clássico de todos. Aqui encontramos o protagonismo, a coragem e a vitalidade como traços primordiais da personalidade. O objetivo principal do herói é deixar uma marca. Deixar a sua marca. Isso com atitudes corajosas que visam o bem maior, chegando até o extremo altruísmo, oferecendo-se ao perigo como sacrifício pessoal para a salvação do mundo. O herói deseja dominar. Na mitologia greco-romana, o arquétipo do herói se encontra presente na figura do semideus. Exemplos não faltam: Aquiles, Ulisses, Hércules e Perseu, por exemplo. Homens que desafiam a natureza e o divino em prol de cumprir sua missão. II) O Mago. É aquele que as meninas avadacabrestas gostam. O mago é intuitivo, visionário e criativo. Transforma a si mesmo e ao mundo com seus poderes, sendo o objetivo principal a busca por poder, na forma de conhecimento. O mago também quer deixar sua marca. Aqui, importa mais o que está oculto, escondido de todos. Esse arquétipo visa a espiritualidade, as sensações, os pressentimentos e os presságios. O grande aspecto negativo do mago é a falta de praticidade que suas ideias por vezes podem carregar, eis que és deveras idealista, meu caro mago. Solidão e isolamento também são mazelas que você carrega. Às vezes o mago pode apresentar tendência para a manipulação, dificultando a formação de laços verdadeiros e facilitando seu isolamento. III) O Rebelde/Bandido/Fora da Lei. Se você também quer deixar a sua marca no mundo, mas o que importa para você é a liberdade extrema, na forma de libertação, então, meu amigo, estamos diante de um rebelde nato, criminoso, bandido, fora da lei, chame do que quiser!, afinal, você é livre. O rebelde gosta de questionar tudo e todos, provocar, quebrar regras. Ele quer transformar o que é obsoleto, o que acredita que não deveria existir. Derrubar o status quo. Seu grande defeito é, justamente, a forte tendência à autodestruição. Exemplo de rebelde é o protagonista do segundo volume de Mansão de Alamut. Jorg Ancrath, da “Trilogia dos Espinhos”, é outro exemplo clássico. Ele basicamente quebra qualquer regra que lhe imponham e usa ardis para vencer seus confrontos pessoais. Um ser ao mesmo tempo lastimável, odiável e carismático. IV) O Comum/Pessoa Comum. Falamos aqui dos famosos NPCs. São aqueles que visam somente pertencer e conectar-se a outras pessoas. Não precisam de destaque. Traços marcantes de sua personalidade são o realismo extremo e a simplicidade. Ele não quer impor-se a ninguém, apenas desenvolver-se com base no que é útil ao grupo. É um bom vizinho, um colega de trabalho gentil. Seu grande desafio é exatamente essa falta de destaque, consequência da falta de desafios. V) O Bobo da Corte. Esse aqui é o segundo pior de todos. Está na lista daqueles que buscam conectar-se a pessoas. Nesse caso em específico, o bobo visa dar prazer e felicidade aos outros com a própria alegria. Seus traços principais são a leveza e a espontaneidade. Tudo para eles pode ser motivo de chacota e gozo. O grande problema do bobo é que, por isso mesmo, acaba muitas vezes sendo raso demais, gastando quase todo o tempo com coisas chulas, sem se aprofundar em demasia nas coisas que, às vezes, requerem atenção. Um exemplo de bobo é o personagem Fool, de The Farseer Trilogy. Sim, deixarei em inglês porque o nome dele(a), traduzido, fica literalmente “o Bobo”. VI) O Amante. Esse daqui é o meu preferido, hehe. Fecha o grupo daqueles que desejam se conectar às pessoas. O amante é sensível, intenso e sensual. Apesar do nome, não necessariamente tem a ver com amor romântico este arquétipo, e sim personalização e, sobretudo, com o desejo de conexão emocional, querendo construir laços profundos. A estética é outro ponto forte do amante. O objetivo do amante é a intimidade, como falei. Ele tem um forte desejo de parceria, além de emanar atração e beleza. Infelizmente, às vezes o amante perde um pouco de si mesmo e da própria personalidade ao tentar enamorar a(s) pessoa(s) amada(s). VII) O Inocente. Esse aqui é o pior de todos. O inocente deseja segurança. Quer se sentir protegido, evita o conflito a todo o custo. De certa forma, é bem ingênuo, abrindo mão do que se importa pelo medo de perder a segurança. São otimistas, sonhadores, esperançosos, simples e, resumindo em uma palavra, positivos. O inocente é a representação da pureza. Acontece que, por acreditar demais na bondade das outras pessoas, o inocente pode acabar se dando mal. Apesar do objetivo louvável de uma vida feliz, o inocente vai encontrar como maior desafio essa falta de proatividade e estagnação, pois abre mão do próprio ego para não perder a segurança. VIII) O Sábio. O maior destaque deste arquétipo é a empatia. O sábio é lógico, verdadeiro e criterioso. Ele buscará sempre o verdadeiro conhecimento do mundo, balizando-se na razão. Ele deseja a plenitude, de modo que sua busca pelo conhecimento é também uma busca espiritual. A grande questão aqui é a falta de criatividade do sábio. Por ser deveras lógico, irá pautar-se pelo conhecimento que já tem, resolvendo os problemas com “receitas prontas”. Por ser bem detalhista e metódico, pode acabar se mostrando conservador nas ações, afinal, esforço desnecessário é ilógico. IX) O Aventureiro/Explorador. Aqui, parecido com o rebelde, o traço principal é a liberdade, mas de forma ampla. O aventureiro é ousado e independente, contudo não quer mudar nada, nem deixar sua marca no mundo, ao menos não de propósito, só está acostumado a atirar-se no desconhecido que tanto lhe fascina. Rotina para quê? É o arquétipo das pessoas autênticas. Seu maior medo é um dia acabar contentando-se com o que já tem, uma vida monótona de assalariado lhe causa arrepios de nojo. O grande desafio do aventureiro é a constante insatisfação. O espírito do aventureiro é um faminto insaciável. Além disso, tem grande dificuldade de assumir compromissos e criar raízes, por conta da instabilidade constante de suas vidas. X) O Governante/Imperador. Liderança, carisma, solidez e necessidade de controle são traços que encontramos no imperador. Ele deseja tornar o mundo seu súdito. Para isso, desenvolveu habilidades de comunicação e persuasão, sendo capaz de convencer multidões a segui-lo em uma guerra de conquista. Ele se dá muito bem diante de regras claras e adora multidões, afinal, todos ali são servos em potencial para servir-lhe numa bandeja as suas ambições. O desafio do governante é a flexibilidade e a dificuldade em delegar, afinal, delegar significa abrir mão de parte do controle das coisas. XI) O Arquiteto/Criador. Imaginação e arte, inspiração e inovação. As características do arquiteto apresentam uma interessante relação de causa e consequência. Ele quer estrutura, da mesma forma que o governante, entretanto na forma de busca por soluções para situações problemáticas e difíceis. Ele quer projetar respostas para as questões mais difíceis do mundo, e ser reconhecido por isso. Seu problema, como o do sábio, é pensar muito antes de agir e projetar cada detalhe da resposta antes de entregá-la. XII) O Prestativo/Cuidador/Servo. O servo deseja conferir estrutura. É altruísta, protetor e exala compaixão. Segue a regra de outro, amando seu próximo como a si mesmo, protegendo a todos, cuidando de forma física e emocional. O grande problema com esse arquétipo é que o servo não se contenta em carregar a própria cruz, mas quer suportar todas as dores do mundo, mesmo não sendo capaz disso. Com tanto amor, ele também pode acabar sufocando quem está próximo. Outros arquétipos de caráter Para ajudá-los a fugir do clichê, vejamos alguns outros arquétipos menos comuns e mais divertidos para o caráter das nossas personagens. I) O Catalisador. É aquele personagem que, mesmo sem querer, sempre está envolvido com os acontecimentos mais importantes do mundo, mas não como herói ou príncipe, não como persona-centro. Não… O catalisador trabalha nas sombras, servindo àqueles cujos nomes ficarão, de fato, gravados na história. O problema deste arquétipo é que o catalisador encontra-se numa situação em que abre mão da própria vontade em prol de terceiros, abrindo mão de amores, ambições e desejos pela vontade de outro. Exemplo de Catalisador é Fitz Cavalaria Visionário, protagonista da “Saga do Assassino”. II) O Matador de Dragões (Dragon Slayer). Um personagem famoso na história por matar dragões, ou que é especialista em matar dragões. Eu ODEIO este tipo de larápio. Tadinhos dos meus dragões… O que eles fizeram de errado? O exemplo que consigo pensar é o Dragonborn, da série Skyrim, e o Natsu, de “Fairy Tail”. III) O Caçador de Monstros (Monster Slayer). Bom, ele caça e mata monstros e/ou criaturas sobrenaturais. É isso. Nada mais a comentar, esse é de boa. Pode ter variações, como caçador de um monstro específico, como em Goblin Slayer. IV) O Herói do Herói. É o personagem que inspira o herói a se tornar um herói. Pensem no All Might, do “Boku no Hero Academia”. É a referência positiva, ponto primordial, que inspira nossos personagens mais inspiradores. V) O Bombado Idiota. Esse é clássico. Pensem no Brutus, do “Marinheiro Popeye”. É basicamente um brutamontes movido a testo, dura e deca. A ausência de qualquer destes e de treino adequado pode fazê-los virar verdadeiras máquinas mortíferas. Mas não contem com eles para formular estratégias. A única estratégia é deitar na porrada. VI) O Mestre dos Magos. Bom, neste aqui o que vigora é a sabedoria extrema, expressa através de falas dúbias e confusas, com significado aberto e polissémico. Ó, céus, não poderiam o mestre dos magos estudar um pouco de denotação, clareza e coesão? Enfim, fora isso, ele é realmente muito poderoso. Lembrem do mago lá em cima, multipliquem por dez e shazam, terás o poder do mestre dos magos. VII) A Mulher Mais Bonita do Mundo. Tá bom, eu concordo que este aqui parece bem caliente. Pero no mucho, okay? Consiste basicamente em ter na história uma personagem detentora de toda a beleza, monopolista de olhares e de bons comentários. Distribua todos os pontos possíveis em charme e tenha uma vida fácil, ou não, depende do enredo. Um exemplo bobo, mas que vocês conhecem, é a Penélope Charmosa, clássica de vários desenhos do Cartoon Network (coisa de velho, se você tem menos de quinze anos, provável que esteja se perguntando o que carambolas é um Cartoon Network). VIII) O Homem-Lobo/Lobisomem. Autoexplicativo, suponho. Trata-se de um homem que por algum motivo tem características lupinas, ou poderes do tipo, seja pelo sangue ou por magia. Recuso-me a dar exemplos que envolvam Crepúsculo, então fiquem com o Lobisomem Pidão, clássico da internet. E sim, Lobisomem Pidão se enquadra neste arquétipo. XIX) O Mentor. Trata-se do personagem responsável por deixar o protagonista fodão, ou menos fraco, pelo menos. Exemplos não faltam, praticamente toda obra tem um. O Minato foi mentor do Kakashi em “Naruto”. A Jasmine e depois a Mu Xuanyin foram mentoras do Yun Che em “Contra os Deuses”. Detalhe importante é que mentorear não se resume a cultivo ou ninjutsu, é bem mais abrangente, envolvendo conhecimentos românticos e até basquete. Usem a criatividade para criar bons mentores em suas obras. X) O Ajudante/Tenente/Imediato. É o segundo na hierarquia, o de confiança do prota. Normalmente é coadjuvante, muito embora também possa ser co-protagonista. Espécime de Sr. Spock para o Capitão Kirk, em “Jornada nas Estrelas”. Caso permitam um merchan, é também este o caso de Beto, em “Sangue do Dragão Ancestral”. XI) O Burocrata Obstrutivo (corno manso). Representa tudo o que há de pior no mundo. Procedimentos ilógicos e morosos, documentação desnecessária e requerimentos difíceis. Jamais permita que este seja seu protagonista, ou vai arranjar uma multidão de desafetos. XII) A Palerma. Já leram Tchekhov? Não?! Pois bem, esta aí representa a ingenuidade e falta de vontade de se rebelar. É a personagem lerdinha, que observa seus direitos serem tolhidos e interesses ignorados sem nada fazer. Pregue uma peça nela. Use-a como alívio cômico. Ela merece isso. Se ela decidir se rebelar, pronto, você tem um belo de um plot. Existem vários tipos de arquétipos, como vocês puderam ver. Este texto não tem condição de catalogar todos, mas tão somente dar-lhes um norte, com exemplos. Sejam criativos e curiosos, meus caros e caras. Tenho certeza que criarão personagens incríveis daqui em diante. Considerações finais Evidentemente, meu caríssimo leitor, que, apesar da pequena remissão à psicologia, nosso tema central e principal objetivo aqui, neste simplório artigo, é ajudar você na construção de personagens literários. E justamente por isto que um adendo importante a fazer sobre arquétipos é que, psicologicamente, nenhuma pessoa pode ser reduzida a uma premissa. Uma pessoa apresenta um arquétipo dominante, claro, contudo pela própria teoria junguiana essa mesma pessoa apresentará ao menos dois outros arquétipos secundários. E, sim, arquétipos são apenas premissas de comportamentos que se espera de determinada pessoa com base nos traços dominantes de seu caráter. Por isso mesmo que, tanto em termos de psicologia, quanto em termos literários, vocês não vão querer reduzir sua personagem ao arquétipo. O quão raso seria isso? Claro, haverá casos, e isso se restringe à literatura, em que um ou outro personagem figurante poderá ser resumido à premissa, pois é essa toda extensão de seu papel na obra. Mas, por favor, novamente eu lhes suplico, aficionados amantes da escrita. Como regra geral, não reduzam seus personagens aos seus arquétipos! Dito isso, agradeço a todos, desejo-lhes uma excelente aventura literária e pergunto: Qual arquétipo é o seu? Ah, e não esqueçam de conferir nossos outros conteúdos e, se tiver interesse, dar uma passadinha em nosso grupo no discord. Forte abraço!! (^w^)

  • O que é começo, meio e fim.

    A estrutura de texto da sua menor unidade até sua totalidade. O conceito mais básico do roteiro, é o de que, como já sabemos de forma intuitiva, histórias devem ter um início, um desenvolvimento e um final. Para tal separação, vários nomes foram propostos pelas mais diferentes estruturas de escrita, mas, no fim, todas elas se resumem a separar uma história entre começo, meio e fim. Sendo esse conceito a base de como construir um roteiro, obviamente ele se torna muito poderoso e importante na escrita. Ainda que pareça muito natural e intuitivo, entender o que é o começo, o meio e o fim, bem como compreender como executá-los, é fundamental para construir uma história realmente concisa e capaz de impactar pessoas. Então como definirmos o começo, meio e fim de forma clara? Afinal, todos tem uma noção intuitiva sobre o que essas coisas são, mas para poder usar um conceito ele precisa de uma definição simples e clara. Aqui alguns problemas começam, já que para além de estruturas macro, como o roteiro da história, ou dos atos, até mesmo parágrafos seguem essa estrutura. Sendo um conceito que abrange da menor a maior estrutura de um texto, naturalmente é impossível dar uma única definição para cada uma das três palavras. O começo de um parágrafo é diferente do começo de uma história. Mas será que essa diferença é tão grande assim? Sem dúvidas, não há como uma definição fazer jus ao quão abrangente esse modelo é, ainda é possível fazer uso de uma explicação generalista, para entender como esses conceitos afetam da menor a maior estrutura de uma história. O começo Assim, em termos gerais, para toda sua história, para um arco, para uma cena, ou até para um parágrafo, o começo é uma apresentação e uma promessa, nele é apresentado sobre o que será o futuro. Por esse ponto de vista, é onde se promete algo ao leitor o que será entregue no desenvolvimento e fim. Em um parágrafo, por exemplo, é na sua primeira frase que apresenta-se o tema desse parágrafo. Seja esse tema descrever uma casa, apenas uma porta, ou apenas mostrar a ação de pegar um celular. De qualquer forma, é fundamental para uma boa estrutura de parágrafos, que ele tenha um assunto a ser tratado, assunto esse que se define em seu começo. No entanto, às vezes uma temática é grande mais para ser abordada em apenas um parágrafo, ou simplesmente há o desejo de ter parágrafos mais curtos, para isso separa se um tópico em sub-tópicos, criando outra estrutura. Por exemplo, de volta a descrição de uma casa, é possível dividi-la entre um parágrafo sobre o tamanho, outro sobre o jardim, outro sobre a fachada. Então, novamente, cria-se uma estrutura onde há primeiro há insinuação de que a casa será descrita, começando por um tópico mais geral e permitindo que cada parágrafo adicione mais um detalhe. No último estágio do que ainda pode ser chamado de micro, estão as cenas. Obviamente, toda cena tem um começo, onde estabelece-se o local, o tempo e os personagens envolvidos. Bem como, é nesse momento que se dá o tom emocional que seguirá. No entanto, diferente de um parágrafo, que, por ser muito pequeno, não permite quebra de expectativa, vale mencionar que uma cena e todas as estruturas macro permite. Ou seja, ainda que algo seja apresentado de certa forma no começo, nada te impede de mudar no futuro, apenas é necessário ter cuidado ao fazer isso e, mais importante, nunca gerar uma quebra de expectativa acidental. Entenda o seu começo, o que precisa ser apresentado nele e seja leal a ele. Então, a junção de várias cenas levará a um ato, que naturalmente segue seu próprio começo, meio e fim. Normalmente há nas cenas iniciais dele a introdução de personagens, poderes, mundo, mas o mais importante e fundamental, há a introdução de um conflito que será o centro de todo o ato. Por fim, toda história obviamente tem seu início, porém diferente de todos os casos citados até agora, o começo de uma história deve ser um conjunto de eventos que não precisam de contexto extra para ser funcional. Óbvio, muitas vezes, ocorreram coisas antes dele, mas como ponto inicial é necessário que seja possível entender o que está havendo sem contexto prévio a ele. O fim Pulando o meio, o fim se define como resposta direta ao começo, ou seja, uma conclusão, que não é necessariamente o final de tudo, mas o fechamento de tudo aquilo que foi proposto no começo. Na menor das escalas de um texto, o parágrafo, propõe-se um tópico em seu início. Sobre isso, pode-se discorrer quanto achar necessário, limitando-se ao tamanho que preferir de parágrafo. Em livros, é comum que se abram muitas tangentes, com longos blocos de texto abordando algo; já em webnovels, é mais usual é manter os parágrafos mais curtos. De qualquer maneira, o fim é a última coisa que se tem a dizer sobre o tópico inicialmente apresentado, concluindo-o. No caso de uma cena ou estruturas mais macro, existe uma diferença na complexidade dessa conclusão. Normalmente, em um único parágrafo não são abordados conflitos emocionais, ou crescimento de personagem, mas em uma cena isso pode acontecer e em um ato isso deve acontecer. Nesse sentido, essa conclusão além de material com, por exemplo, o vilão sendo derrotado, também deve ser espiritual, com os personagens envolvidos resolvendo os conflitos internos apresentados no começo de forma coerente. Por fim, o final de toda a história segue uma ideia similar, mas em uma escala ainda maior. Nele, deve-se concluir a mensagem da obra, fechando todas as temáticas abordadas e explicando todos os mistérios. Ainda assim, não necessariamente esse é o final de tudo, o personagem principal não precisa ter resolvido todas as suas inseguranças e ascendido ao nirvana, muito menos ele precisa se tornar o mais forte do universo, basta que, ao final da história, tudo que foi apresentado em seu começo tenha uma conclusão. Toda história é um recorte de um universo muito maior e vasto que existia antes dela começar e que existirá após o seu fim, sendo que esse recorte é definido em suas extremidades pelo começo e pelo fim. Então o que conecta os dois é o meio, o recheio da trama. O meio Diferente dos dois casos que têm definições relativamente claras, o meio é o mais livre. Contando que ele consiga, de forma lógica, ligar o começo ao fim, pode-se fazer o que preferir. É nele em que a maioria dos eventos acontecem, onde há mais reflexão, onde as explicações são dadas, onde os conflitos alcançam seu ápice. Por fim, ele também é onde se apresenta tudo para convencer o leitor de que o fim é a resposta correta ao começo. Ou seja, ele é o conjunto de argumentos que sustentam a conclusão do livro. Para o meio, a mais livre das três partes, resta uma regra: ele deve se conectar logicamente com o início e o fim, de forma a tornar o fim convincente. Claro, existem muitos modelos de escrita que abordam como construir o miolo de sua história, com alguns padrões tão bons que são repetidos a séculos. Ainda assim, há vários desses modelos e sempre é possível encontrar novos meios criativos de contar esse meio. Mesmo em uma estrutura muito micro, como o parágrafo, o meio pode ter quantas informações desejar, contanto que elas estejam relacionadas ao tópico inicialmente apresentado e que não contradigam o final. Para uma cena, para um ato, ou até para toda a história, é nessa parte onde a maioria dos eventos acontecem, guiando e justificando o final. Agora vá escrever O começo é uma apresentação de conceitos, ideias e problemas, o fim é a resposta dada a isso e a conexão lógica entre os dois é chamada de meio. Com isso em mente, você precisa ir praticar. Para que consiga construir textos bem estruturados de forma mais natural, é importante que, primeiro, se force a pensar conscientemente no começo, meio e fim de tudo que produzir. Esse será um processo tedioso e trabalhoso em vários momentos, mas é necessário, porque de tanto se forçar a pensar sobre, aos poucos se tornará automático estruturar seu texto desta forma. Além do mais, não existe nada melhor para fazer na vida do que escrever, então, você que já acabou de ler esse artigo, vá escrever agora mesmo e aproveite o processo. Se houver qualquer dúvida, sinta-se livre para comentar fazendo perguntas. E boa sorte com sua futura obra.

  • Melhore seu Sistema: HardMagic & Softmagic

    Introdução Os termos hard e soft magic foram criados pelo autor de Mistborn, Brandan Senderson, com o intuito de classificar aspectos narrativos relacionados a magia, muito comuns em diversas obras. Esses sistemas são recorrentemente usados em histórias para dar personalidade a elas e são uma ferramenta para mover a história. Em Mistborn, por exemplo, existe a Alomancia, um tipo de poder que é adquirido por meio da ingestão de metais, e dependendo do metal, a pessoa ganha um poder diferente. A sociedade inteira do mundo de Mistborn é criada ao redor desse conceito, criando assim uma estética distópica em que as construções e o ambiente devem ser criados tendo em mente o que as pessoas desse mundo são capazes de realizar, além de demonstrar os impactos sociais causados pela existência dessa magia. Pelo nome, hard e soft, podemos distinguir suas funções. HardMagic É quando nos referimos a um sistema de magia ou poderes que é bem explicado, com razões lógicas para existir e com influência direta no mundo ao redor, dando acontecimentos concretos e perfeitamente razoáveis de acordo com o que é apresentado imposto. Vamos ao bom e velho FullMetal Alchemist, em que a magia atua de maneira igual a alquimia e tem como centro a Lei da Troca Equivalente, em que é dado algo em troca da realização da alquimia desde que tanto o que foi ofertado quanto o que é desejado possuam o mesmo valor; esse fato faz com que certas pessoas acreditem que a alquimia é algo profano e proibido, enquanto outros a tratam como ciência e buscam estudá-la para descobrir meios de se aproveitar mais de sua existência. São casos como esse que vemos o hardmagic atuando mesmo quando não é usado, porque o que importa no final das contas é sua influência ocorre igualmente no mundo em que a história se passa e no próprio desenrolar do enredo. Nós podemos assim identificar algumas peças centrais que compõe esse tipo de sistema, como: Limitações Até onde a magia consegue ir, seus limites e o que ela pode ou não pode fazer. As limitações tem como objetivo não deixar com que o sistema se expanda a coisas impossíveis, como apagar o sol ou esvaziar o oceano, tornando-o mais crível. Previsibilidade São definidas as capacidades e o que é necessário para ser feita,tornando seu resultado prevísivel, pois não há como fazer algo diferente do que o sistema permite se ele é supostamente formulaico. Custo O que é necessário para a magia ser feita. Tome como exemplo que uma pessoa precisa de uma energia X para produzir resultado Y, a energia X é o custo para que tal resultado seja produzido. O custo não é limitado a somente energia, podem ser outras coisas como componentes específicos e certas vezes o próprio cansaço físico do personagem pode ser levado em consideração. Softmagic Já aqui, a magia é considerada, literalmente, mágica, ela é uma ferramenta usada para criar misticismo e natureza fantástica na história, não abordando nenhuma especificação concreta e geralmente trabalhando como algo desconhecido na visão dos personagens. Muitos acreditam que isso pode ser algo ruim de se ter numa obra, porém ela funciona muito bem quando o foco da história não é a magia. Em histórias, precisa-se ter um número de coisas para se focar, e como hardmagic ocupa um espaço muito grande nesses focos por ter um impacto gigantesco em todas as zonas — isto é, no mundo, enredo e nos próprios personagens. —, ele muitas vezes não é possível de se encaixar na trama, então o softmagic pode acabar sendo preferível. Ela pode ter algumas características chaves, como: Misticismo O sistema não é compreensível de maneira alguma, ele é subjetivo e dá margem para filosofias e um entendimento abstrato, logo, os personagens podem ter contato com as artes místicas e por mais inteligentes que sejam, não encontram lógica naquilo. Simplicidade Por não possuir leis definidas, ele não precisa de nada tão complexo e dá muita liberdade para se produzir o que quiser em cima, abrindo possibilidades para produzir qualquer resultado desejado. (Exemplo: Black Clover) Flexibilidade Qualquer coisa pode acontecer com ele, logo, você pode arranjar janelas e espaços criativos para se usar a magia, evitando cair em partes que seriam impossíveis de se desenvolver pelo sistema já ser definido (Exemplo: Tongari Boushi no Atelier). Qual devo escolher? Ambos os sistemas possuam determinadas características, mas não quer dizer que devem seguir todas à risca. Um sistema softmagic pode não influenciar o mundo ao redor, mas ainda é parte fundamental de como a história funciona. Um exemplo seria Black Clover. A magia existe, tal como uma grande dependência dela para quase tudo na vida das pessoas, incluindo em tarefas domésticas como lavar roupa, arar o solo e etc. Em nenhum momento na obra é dito algo sobre "pessoa X tem magia Y, aí vai acontecer isso e aquilo", o autor te dá apenas uma informação relevante sobre a magia: Aqueles com maior poder mágico são os amados pela mana e a nobreza. A partir disso temos a história que conhecemos. Bem interessante, não é? Mas você deve estar se perguntando: Tá, mas por onde exatamente eu começo?? Essa é a primeira e a maior dúvida que surge na criação de um sistema de magia/poder, e na verdade é a mais fácil de responder. Primeiro de tudo, o sistema vai ser soft ou hard? Qual seria mais viável e flexível para contar sua história? Com isso respondido, podemos iniciar uma série de perguntas que vão construir o sistema desejado, lembrando que, a depender do tipo escolhido (soft ou hard), algumas das perguntas não são necessárias. Como guia, vamos nos fazer as seguintes perguntas: Qual a origem da magia? Quem pode usá-la? Como podemos invocá-la? O que ela não pode fazer? A partir disso conseguimos infinitas respostas, listamos algumas delas para te ajudar a escolher ou criar as suas próprias. Qual a origem? Magia provinda de deuses; (Shuumatsu no Walkure) Magia como energia vital; (Ki, de Dragon Ball) Magia é uma energia conectada a tudo; (Spin, de Jojo Stell Ball Run) Magia provinda de outra dimensão. (Obras de Portais em geral) Quem pode usá-la? Todo mundo? Quase todo mundo? Raças específicas? Estudiosos? Como invocá-la? Gestos; Runas; Rituais; Símbolos; Força de vontade; Movimentos; Ordens vocais. O que ela não pode fazer? Regras que proíbem seu uso; Locais e objetos que a anulam; Propriedades ganhas no uso da magia; Limites.

  • Terminei o livro! O que diabos eu faço agora?

    Você se esforçou. Passou dias a fio escrevendo de manhã e de madrugada, superou seus bloqueios e inseguranças e, finalmente, terminou de escrever o tão sonhado primeiro (ou único) volume da sua novel. Parabéns! Se este é o seu primeiro livro, então é provável que esteja pensando algo como “ótimo, eu terminei de escrever! E agora?” Talvez devesse procurar uma editora? Esperar e terminar o meu segundo livro postando na internet? Talvez autopublicação? Talvez tudo isso? Ou nada disso? Tenha calma, jovem escritor. Sei que ideias e mais ideias passam pelas nossas mentes em momentos como esse, mas é necessário que analisemos friamente como proceder a partir daqui, afinal: O que você faz depois de escrever um livro? Quando o livro está finalmente escrito, ele não está realmente acabado. Na verdade, escrevê-lo é apenas o começo do que precisa ser feito e, se esta é a sua primeira obra, é natural que esteja confuso. Tudo que citei até o momento são partes importantes do processo de escrita e publicação, mas você não precisa (e nem deve) fazer tudo de uma vez. De agora em diante, vamos dar uma espiadinha em quais processos devemos seguir após a escrita e o que devemos deixar para depois (ou para lá). Então relaxe e vamos, pouco a pouco, encaixar esse quebra-cabeça todo embaralhado na sua mente! O Que Não Fazer Depois de Escrever um Livro A sua tão sonhada obra está finalmente fechada. Isso mesmo! escritinha, da primeira à última palavra. É tão gratificante que você quer enviá-la a uma editora agora mesmo, e então publicá-la para ficar famoso e ganhar rios de dinheiro! Na realidade, pouquíssimos livros estão realmente bons após a finalização do primeiro rascunho. Correr para o kindle, amazon ou alguma editora para publicar o primeiro volume imediatamente pode ser um tremendo tiro no pé. Ainda temos trabalho pela frente, afinal, você revisou a sua obra? Escrever bem é reescrever quantas vezes forem necessárias. Não se dê por satisfeito com a primeira versão do seu livro. Mesmo que seja um bom rascunho, torne-o um ótimo livro. Enviar seu trabalho de forma prematura pode queimar pontes importantes para o seu desenvolvimento e crescimento como escritor. Alguns entes literários têm políticas duras de rejeição, por isso planeje bem a forma e o momento de enviá-los qualquer projeto. Revise primeiro, edite depois Grande parte das pessoas, após escrever o seu livro, imediatamente voltam direto para a primeira página. É uma verdadeira missão impossível: corrigir errinhos ortográficos, vírgulas e orações, uma por uma, até que o dicionário aurélio chore de emoção. Isso é um problema terrível, veja: Após terminar o manuscrito, a primeira coisa a ser feita deve ser procurar por erros estruturais, furos de roteiro, capítulos problemáticos e incoerências. Essas falhas precisam ser as primeiras a serem deletadas ou corrigidas. Agora imagine passar horas corrigindo a ortografia de um capítulo que será apagado depois? No melhor dos casos, você perdeu algumas horas em absolutamente nada. No pior dos casos, você será tentado a não apagar a parte problemática, pois se apegou à ela. 5 Próximos Passos Depois de Escrever um Livro Agora que já montamos a borda do quebra cabeça e aprendemos a evitar algumas breves armadilhas, vamos finalmente falar sobre o tópico que dá nome ao artigo: Terminei o livro! O que diabos eu faço agora? Deixe O Livro Dormir Não só o escritor precisa de algum descanso, mas a escrita também. Isso ocorre pois, depois de terminar de escrever, você não tem ampla noção daquilo que é bom, ruim ou questionável. Daquilo que precisa de trabalho ou que já está bom Deixar a obra distante por algumas semanas, até mesmo um mês, dá a você tempo para recuperar a perspectiva e conseguir enxergar o livro como ele de fato é. Ah, mas não se esqueça: deixar o atual volume de lado não significa parar de escrever e evoluir como escritor. Saia, caminhe, reflita sobre novas obras ou contos curtos. Utilize este tempo para se aprimorar e continue escrevendo. Mantenha hábitos relacionados à escrita e, quando finalmente voltar aos trabalhos, observe seu livro por inteiro com a mente clara e os olhos atentos. Não escreva, leia! Antes de começar a editar partes soltas, leia o livro de ponta a ponta. Mesmo que pareça trabalhoso e demorado, acredite, não é! Ajustar lacunas criadas por uma correção imprecisa ou embaralhar os neurônios por ter bagunçado uma sequência importante de eventos te sugaria dezenas de horas. Por isso, leia e se atente à sua própria escrita, para que veja exatamente o que precisará ajeitar no próximo rascunho. É interessantes que se faça algumas perguntas enquanto lê, tais como: O que está faltando? O que é excessivo? O que precisa ser reescrito? É sempre interessante o quão empolgados ficamos, esperando o que vamos encontrar. Sonhe Quando acabar a segunda tarefa, ficará impressionado com o quão boas são algumas seções. E com o quão ruins as outras são. Mas principalmente, com o quão diferentes todas elas são daquilo que você tinha em mente no inicio. Mas não se decepcione, sonhe. O que livro pode se tornar? Como você pode transformá-lo em algo novo? É mágico sonhar enquanto escreve e ver como as projeções se modificam com o passar das palavras. Não tenha medo de imaginar e sonhar, mas não se assuste com as diferenças para a escrita real. Hora de polir a estrutura Imagine que seu texto é uma pequena estátua artesanal. É claro que, em algumas seções, haverá barro a ser retirado e, em outras, barro a ser remodelado. Você já tem uma visão boa o suficiente de como realmente a sua história é e qual o caminho para o qual deseja encaminhá-la, então está preparado para partir para o segundo rascunho. É hora de deletar aquelas linhas, páginas ou capítulos desnecessários e de preencher as lacunas da sua história. Reescreva com atenção as partes que continuam necessárias para o andamento da trama, mas continham problemas. Antes do polimento e da edição, é importante que as bases estruturais do manuscrito estejam firmes e sólidas. Dependendo do quão confortável estiver, é possível partir para uma autoedição (isso é: editar o próprio escrito). Mas caso não tenha certeza (e é raro que tenhamos, principalmente na primeira publicação) não tenha medo de procurar um bom editor para te auxiliar, a Novel Brasil pode te ajudar com isso! Peça Ajuda Agora sim! Depois de rascunhar duas ou três vezes, é o momento de começarmos a chamar outras pessoas para ajudar na produção, sejam elas editores, revisores ou leitores beta. Para passarmos com maestria dessa fase, precisaremos entender que o seu livro não é você. Utilize as críticas daqueles que se propuserem a auxiliar como combustíveis para melhorar ainda mais a sua escrita. Então, depois de passar por todos os passos acima (e encontrar aqueles malditos errinhos de digitação que a gente sempre perde), seu livro finalmente está pronto para a publicação! Quando Seu Livro Estiver Realmente Pronto Boom! O quebra cabeça está finalmente montado. Sente sua cabeça menos embaralhada, jovem escritor? Pois eu sinto! De qualquer modo, não é uma tarefa fácil identificar em qual momento o volume estará totalmente finalizado, e é por isso que é tão importante encontrar comunidades de escritores que possam te auxiliar e revisar não um, não dois, mas pelo menos três rascunhos produzidos, como a Novel Brasil! Somente então, ao término de toda a trilha apresentada, é que você deve finalmente fixar seus olhos em um meio de publicação, que contém alguns desafios a mais. Passamos, assim, pela parte mais difícil de escrever um livro. Por mais que a primeira versão seja realizadora e bastante complexa, a edição é bem mais difícil. E tenha calma, não estou tentando te desanimar! É neste processo que você acompanhará aquilo que criou finalmente se tornando um livro de verdade. Por isso, se mantenha focado. E se (ou melhor, quando) postar o seu livro, não deixe de avisar nos comentários. Boa sorte, escritor!

  • Coisas que Você Precisa Saber Antes de Montar a sua Carreira como Escritor

    É bem comum sermos movidos por uma ideia na hora de escrever. Nós montamos um roteiro — ou não — e então, ansiosamente, as colocamos na ponta de nossos dedos e as passamos para um documento em branco. Ahhh~ Isso me faz lembrar dos meus tempos de início de carreira. Eu era um total ignorante no quesito escrita, tanto é que nem gostava de livros ou de ler, mas mesmo assim sentei a bunda na cadeira e me arrisquei a escrever um "capítulo" — o que hoje em dia chamo mais de rascunho, mesmo. Pensando nisso, pergunto-me quantas pessoas tiveram o mesmo começo que eu ou quantas não tiveram, pelo simples medo de se arriscarem em algo novo… Enfim, este artigo é dedicado a eliminar esses obstáculos invisíveis que as pessoas criam em suas mentes — ou que elas nem sabiam que existiam. Basear-me-ei nas coisas que aprendi ao longo da minha experiência como escritor, mas que, se não fosse pela falta de artigos relacionados ao assunto, poderia ter facilmente aprendido sobre, antes mesmo de ter começado a escrever. Sem mais enrolações, que tal começarmos falando sobre algo que pouca gente sabe e, por conta disso, confunde muitos amantes do exercício de escrever? Mas, afinal, o que diabos é a Escrita Criativa? Escrita Criativa Entre ser uma pessoa alfabetizada, gostar de escrever e saber escrever, existe um abismo de conhecimentos e habilidades diversas. Para aprender a ler e escrever, que geralmente acontece durante a infância, nós precisamos dominar as letras e suas formas de construir palavras. Para gostar de escrever, é preciso desenvolver um interesse notável e genuíno pela expressão "escrita" e utilizá-la como uma atividade de lazer e de descontração. E, para saber escrever, é necessário saber tudo isso e mais alguns conhecimentos sofisticados, direcionados a um objetivo em comum, que aqui será a produção de ficção. Esses três passos são etapas evolutivas do processo de produção textual. Perceba que, para aprender a escrever, você não precisa gostar da escrita ou ter o sonho de publicar um livro. A alfabetização é um processo da ordem da necessidade, uma exigência comum para viver em sociedade e ser capaz de fazer atividades básicas. Para gostar de escrever, obviamente, é preciso ser uma pessoa alfabetizada, mas também não há a necessidade de saber escrever ficção ou ter o sonho de publicar um livro. Gostar de escrever não é necessariamente uma necessidade básica para viver em sociedade, apesar de amenizar o fardo de alguns trabalhos escolares e compromissos no trabalho, por exemplo. Gostar de escrever significa ter um apego com o ato de escrever como um hobbie. Não há um compromisso sério de escrever ou nenhuma preocupação em se aprofundar em teorias e técnicas. Por fim, para saber escrever, nós precisamos de maior sofisticação na hora de escrever, como também maior conhecimento dos processos da escrita em um maior senso de propósito. Em outras palavras, para escrever ficção você precisa conhecer algumas diretrizes básicas e ter um objetivo claro. Saber escrever uma história está longe da etapa inicial, a alfabetização, e consequentemente está longe da necessidade. Saber escrever é uma vontade que exige certas competências para acontecer. "E é aqui que entra a Escrita Criativa." Francamente, a escrita criativa não é uma necessidade nem algo obrigatório que todo mundo precisa saber. A escrita criativa se concentra especialmente no campo da ficção e contação de histórias, também conhecido como storytelling. Trata-se de uma maneira específica de expressar e reunir conhecimentos para produzir ficção. Ou seja, a escrita criativa é ao mesmo tempo uma forma de expressão encontrada majoritariamente na ficção, em um conjunto de conhecimentos destinados ao ensino-aprendizagem. Essa forma de expressão engloba os famosos elementos da narrativa e servem como sustentáculo para contar uma história que emocione e transmita alguma mensagem. Você não encontra a escrita criativa em artigos científicos ou em livros técnicos. Você não encontra a escrita criativa em receitas de bolo e bulas de remédio. Porém, com a expansão da escrita criativa e principalmente do storytelling, é possível utilizar exercícios e técnicas para requintar algumas formas de expressão. Como os seres humanos amam histórias, cada vez mais profissionais estão utilizando a escrita criativa em seus ambientes de trabalho. Dessa maneira, encontramos escrita criativa em livros de não-ficção, apresentações de powerpoint, relatórios de resultados, teaching e em outras várias ocasiões que antes não caminhavam tão juntas da criatividade. Hoje, é possível dizer que a escrita criativa está na boca do povo e que um dia a criatividade vai liderar o mundo… mas tudo isso não passa de um sonho. Sonho esse que discutiremos logo a seguir. Eu tenho um sonho… É muito comum sonhar em publicar um livro e viver da escrita. Geralmente, nós temos tais sonhos ainda na adolescência e naturalmente, com o passar do tempo, eles vão embora e dão lugar à dura realidade. Padrão. Assim, quando você retoma o seu sonho de dez, vinte, trinta, quarenta anos atrás, encarar a ideia de escrever um livro pode ser assustadora demais para ir até o fim. Daí, vem a desistência e as justificativas de que é difícil, exigente demais e que você não tem tempo. Para evitar cair nessa ribanceira de grandes frustrações, escrever é um hábito que segue a regra comum de todos os hábitos de nossa vida: começar com um pouco e se esforçar todos os dias. Não existe um atalho mágico nem um curso milagroso que vai te transformar em um prolífero autor da noite para o dia. Se o seu sonho ainda é publicar um livro, não há motivos para cair em desespero ou sofrer escrevendo. Para criar o hábito de escrever, existem 4 competências que eu gostaria de destacar, embora elas façam parte da vida profissional de muitas pessoas escritoras ou não. Então, mesmo que você não queira publicar ou viver da escrita, são competências que vale a pena desenvolver. Comprometimento Por mais que escrever seja um passatempo para construir uma carreira ou finalizar um projeto, é preciso que a escrita seja muito mais do que um momento de lazer. Muitas pessoas reclamam quando seus hobbies se transformam em profissão, mas, apesar da seriedade e de possíveis prazos, escrever não precisa ser um fardo só porque você se comprometeu. A diferença é que agora você terá novas preocupações, como desenvolver um estilo, polir a sua escrita com o estudo, treinar diariamente, cumprir metas e se expor a feedbacks. São tarefas nem sempre prazerosas, mas necessárias para levar um projeto a sério. Ser uma pessoa comprometida com a publicação de um livro ou de uma carreira é a garantia de que os outros também vão te levar a sério, afinal, se você não levar a sério, quem é que vai? Disciplina Escrever é um hábito, não uma atividade que deve ser feita somente nos momentos inspirados. Graças à disciplina, é possível reservar um espaço na agenda para escrever todos os dias e, com o tempo, finalizar um projeto em tempo saudável. Disciplina não é fácil de criar, mas, uma vez desenvolvida, é muito mais fácil de manter. Persistência Escrever um livro no Brasil e ser escritor ou escritora não é nada fácil. Nós vivemos em um país onde cada pessoa lê um pouco mais de dois livros por ano em média (Fonte: Instituto Pró-Livro (2016)), enquanto muitas editoras conhecidas valorizam best-sellers internacionais em detrimento de produções nacionais. E ainda que a publicação compartilhada, na qual você desembolsa milhares de reais, tem sido uma tendência muito forte, ela ainda é cara e distante da realidade de muitos brasileiros. Eu particularmente abomino esse tipo de publicação. Longe de mim dizer o que você deve ou não fazer com o seu dinheiro, mas saiba que você pode ser enganado. Não são todas, mas muitas editoras se aproveitam desse sonho para armar uma armadilha. Dar-te-ei um exemplo que muito ouvi dentro da comunidade de escritores. Normalmente, você paga caro para que eles imprimam o seu livro em mídia física, com o selo da editora. Eles fazem uma divulgação porca — se é que fazem alguma divulgação — e te fazem vender o seu livro por eles. Se você vender bastante, eles vão dizer com orgulho que você é da editora, mas, se você não vender… Bom, pelo menos você pode se chamar de "escritor profissional", já que tem um livro publicado, né? Errado! Essas editoras só querem saber de dinheiro, não da qualidade de seu livro, tanto é que ele nem será passado por um revisor ou editor. Você vai viver na ilusão de que tem uma boa escrita, porém, em muitos casos, você ainda não tem e vai ficar decepcionado — e até irá querer desistir de escrever — quando o seu livro fracassar nas vendas. Não seja otário! JAMAIS pague para publicarem algo seu. Prefira sempre uma entrevista com o editor-chefe de alguma editora ou então vire autônomo e se publique gratuitamente em alguma plataforma como a AmazonKDP ou em algum site, como a Kiniga, a Novel Mania, a Vulcan, a Reaper ou a Mangá Livre. Por isso, saber persistir — e onde persistir — é quase uma obrigação e está intimamente ligada à quarta competência. Paciência Largar tudo e viver da escrita não é uma escolha racional. Existem milhões de livros publicados, com histórias maravilhosas… e anônimos. Entenda que eu não quero te desencorajar, mas, a menos que você seja a próxima encarnação de Machado de Assis, construir uma carreira é um projeto de longo prazo. Ter paciência é fundamental. Paciência para assistir seu lento crescimento, suas lentas vendas e lentos progressos. Paciência para escrever um livro, para revisar o livro, para editar o livro, para juntar dinheiro para contratar editores, designers, e para publicar o livro. Paciência para fazer o marketing do livro para construir o seu público e começar tudo de novo. Paciência para entender que ter muita ansiedade não ajuda e que começar com pouco e com recursos limitados pode ser a sua única chance de sair do lugar. *** Por outro lado, para ser escritor ou escritora existem cinco fatores que você não precisa ter, mesmo que alguém diga que você precisa. Dinheiro Isso mesmo, você não precisa de dinheiro para escrever. Para não cair num mundo de fantasia, você até precisa de alguns trocados para comprar uma capa decente para a sua novel e, até, ilustrações. Graças às plataformas de autopublicação, como a AmazonKDP, Kobo e Bibliomundi, e a sites como a Kiniga, a Novel Mania, a Vulcan, a Reaper ou a Mangá Livre, por exemplo, publicar uma novel pode ser gratuito — ou no máximo com custos acessíveis, no caso das plataformas de autopublicação. Na Amazon, inclusive, você pode publicar não só ebooks, como também livros físicos, uma vez que eles trabalham com a impressão por demanda, e você não gasta nada por esse serviço. É claro que dinheiro facilita muito a nossa vida, pois com bastante verba poderíamos terceirizar muitos trabalhos e contratar profissionais altamente qualificados, ficando apenas com a tarefa de escrever, que é o nosso verdadeiro trabalho. Porém, com o orçamento baixo e em início de carreira, vale a pena arriscar e fazer o melhor que você puder com os recursos que tem hoje. Diploma Você não precisa de faculdade nem de estudos formais para se sentir preparado para escrever um livro. Na verdade, instituições formais são famosas por podar a criatividade e se ater a teorias na maior parte do tempo. Ter um diploma e fazer mil cursos é inútil se você não criar o hábito, ter competência e escrever todos os dias. Portanto oficinas de escrita, como a Tutoria da Novel Brasil, e autodidatismo são válidos e sempre bem-vindos, contanto que você faça sua parte. Originalidade O terceiro fator é crucial. Você não precisa perseguir o original e o novo freneticamente. Carregar referências e saber inovar são duas formas de construir boas histórias. Talento e Sorte O quarto e quinto fatores estão intimamente relacionados. Ninguém nasce sabendo escrever. Por mais óbvio que isso seja, essa frase significa que todo mundo precisa aprender a escrever e que todo mundo é capaz de aprender. Por isso, não se prenda ao "eu não sei escrever" ou "não consigo" ou na pior frase que alguém pode dizer para desmerecer alguém: "fulano tem sorte ou tem talento". Quero deixar claro aqui que eu, o escritor deste artigo, pessoalmente não acredito em "talento". Acredito sim que existem pessoas com facilidades em certas coisas e dons naturais — como Freddie Mercury, vocalista da banda Queen, que por causa de dois dentes a mais alcançava notas quase impossíveis de serem alcançadas! —, mas considero a palavra "talento" pejorativa, um insulto aos esforços da pessoa, só porque agora você a vê em seu ápice e acha que ela sempre foi assim. Sabe, fulano pode até ter tido sorte em alguns momentos ou facilidades que talvez você não tenha, mas o ponto principal da escrita não pode ser sustentado por nenhum desses dois fatores. Em algum momento, o fulano teve que aprender a escrever e treinar as suas habilidades. Se o fulano aprendeu mais rápido o público ou mais rápido, isso provavelmente aconteceu por uma série de fatores que vão desde uma estimulação na adolescência até mais tempo e dinheiro disponíveis. E, além disso, o fulano é o fulano, e você é você. Assim como uma rotina específica não funciona para todo mundo, existem cursos, planos e projetos que nem sempre funcionarão com você. Mas responsabilizar suas frustrações à sorte ou ao talento é uma maneira mais fácil de desistir. Ter facilidade em escrever não é o bastante. Ter sorte não é o bastante. Em algum momento, pessoas sortudas e "talentosas" tiveram que se esforçar. Não há como fugir do esforço, a não ser que você seja uma I.A. capaz de escrever e publicar em um dia. Mas, quando você está lá, no capítulo 15, e não sabe como sair daquela cena interminável, não importa se você acha que tem sorte ou "talento". Você também vai ter que passar por isso. Se preocupar em construir um hábito é a nossa melhor chance de evitar esses golpes de sorte e "talentos natos" que existem apenas em nossa fantástica imaginação. *** Com essas 4 competências e evitando esses 5 fatores, escrever não será mais fácil, mas será uma certeza. Fonte: https://www.udemy.com/share/101y9W3@y6eRvep8fiBApy54TvG6-PMliVpHwykZtze2oG5LBpi90rPfxFa2Zk05pz-aDnUi_w==/

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